22.12.07

sexo casual

"An alarming new study published in the International Journal of Sexual Health reveals that casual sex, the practice of engaging in frequent, spontaneous sexual encounters with new and exciting partners, may only provide unimaginable pleasure and heart-pounding exhilaration for, at most, 25 to 30 years.".

A constatação, claro, está nesse artigo do The Onion.

7.12.07

trava-língua

Fernando Henrique Cardoso disse o seguinte: "Sabemos falar muito bem a nossa língua (...). Queremos brasileiros melhor educados (sic), e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria."

Nos posts abaixo, segue o debate via e-mail que tive com o Pedro. Cada postagem equivale a uma mensagem. São dois pontos-de-vista absolutamente distintos, porém válidos. A beleza de um blog está justamente na ausência das amarras da imparcialidade. Como textos opinativos fazem falta!

trava-língua - pedro I

Qual a razão de inserirem como critério político a gramática de um sujeito? Ou o uso incorreto dela? Atacar a "inteligência" de alguém é até aceitável, mas através de erros de português é no mínimo ingênuo. Já está bem claro que nosso presidente continua errando e saindo nas pérolas da Veja, mas a oposição não percebe que eles só colaboram para o sucesso da mensagem que ele quer passar? Língua tem que aproximar o eu do outro e não há maneira mais convincente do que através de uma gramática natural. Ainda mais para o nosso país. O "mal" uso da gramática é um recurso linguístico evidente do Lula para gerar identificação com seu público, pois a mensagem dele adquire um teor muito maior de inteligibilidade. Se pegássemos qualquer discurso do Lula íriamos deparar com exemplos de um senso comum terrível, que contudo vão ao encontro de um sem-número de pessoas. Língua deve ser inclusiva e gramática ao meu ver exclui os que não têm domínio sobre ela. E presidente não é técnico, não precisa estudar Sociologia, muito menos Filosofia pra saber governar.
A imprensa não cai no truque não, provavelmente a que está aí teve uma formação "pasqualiana" idiota, gramaticista e capaz de confirmar uma briga gigante que meus professores de esquerda têm com o direito que, a saber, é a tal "manutenção de poder através da linguagem" no Judiciário.

trava-língua - fernando I

Concordo que a língua deva ser inclusiva. Não suporto os códigos do Direito, de fato, jogados a esmo em qualquer frase para intimidar o público comum e valorizar o ofício do advogado. Mas não acho que ela deva ser ERRADA. Não são aqueles com conhecimento da língua que precisam errar de propósito - basta serem claros. Cabe a TODOS saber falar e escrever corretamente, para comunicar-se com precisão, interpretar e usufruir de qualquer conhecimento oral e escrito, e, claro, estar em condições parelhas com o restante do mercado profissional. E considero sua análise superficial porque a língua é só um símbolo de uma questão maior: o desdém pelo estudo e formação. Ter a possibilidade do estudo e escolher em não exercê-la é um absurdo; bradar a ausência de aprimoramento, conhecimento e informação como algum tipo de virtude é ridículo.

Por fim, gostaria de sugerir um exercício. Em duas realidades alternativas, o mesmo sujeito é presidente: em uma, ele possui formação superior em, sei lá, economia, direito ou sociologia; na outra, largou a escola no ginásio. Você acha que a competência deles seria rigorosamente equivalente?

trava-língua - pedro II

Jamais caberá a todos praticar o uso correto de uma gramática quando não são dadas às ferramentas necessárias para a aquisição deste status. Insisto em deslocar a discussão para o público-alvo do Lula, classe baixa no caso, em constante discrepância, seja linguística, seja sócio-econômica, com as classes média e alta da sociedade. Quando tratamos deste público, não há nenhum dever social em cumprir com determinados tipos de regras gramaticais, mesmo porque ou elas são desconhecidas, ou mal aprendidas. Além de soarem até arrogantes em certos ciclos sociais. Nas outras classes, ao contrário, há este pressuposto de que tendo maior acesso e conhecimento gramatical da língua devo cumprir determinadas regras, que por sinal é válido. O problema é que ele não é critério de hierarquização da linguagem. É idiota pensar que quanto mais a língua se aproxima da gramática melhor ela aparenta. Precisão, interpretação correta e bom usufruto da língua não requer o condicionamento dificultoso da nossa gramática, mas sim a tal inteligibilidade que tanto é esperada pelo interlocutor. E não, esses critérios não necessariamente constituem uma mensagem inteligível, o contexto e a naturalidade pela qual a língua é falada sim.
Prefiro continuar raso do que ter que "aprofundar" a discussão para um argumento estúpido e disseminado pelos próprios meios de comunicação. Esse do tipo "Lula diz que não precisa estudar". Além dele não ter importância social alguma e, também, ensejar ainda mais ódio ao nosso presidente, ele não se desdobra em políticas públicas avessas à educação, ou um "desprezo" quanto ao repasse financeiro destinado a este setor. Para os que dizem que este tipo de declaração, se é que existe, pode "contaminar" as pessoas que se "espelham" no presidente para "crescer na vida", tornando-as acomodadas e prostadas esperando seu "bolsa-família" por favor se toquem. Se é dada a oportunidade de estudo ninguém vai simplesmente ignorá-la por mera preguiça ou porque o presidente falou que a "educação não serve pra nada". E bolsa não preenche fome de outras coisas (eu nunca na vida quis citar Titãs com isso).
A resolução do exercício é simples. Contanto que ambos os presidentes sejam eleitos democraticamente eles são equivalentes. Se para você a competência funda-se na educação e você votou pensando assim, sem problemas. Agora, pensando reflexivamente, o Lula como presidente significa o que? Que muitas pessoas não adotam o mesmo critério que o seu para votarem. Alguns vão pelo binário amigo/inimigo, outros pelo cargo, muitos pela ideologia. Felizmente, nós não temos controle sobre as finalidades (interesses) de cada um imprimidas no seu voto. E é aí que reside a grande sacada da democracia neste caso, ela isenta o jogo de interesses e fornece à maioria uma vitória. Se você quer resolver o absurdo de se ter um presidente não graduado primeiro você tem que providenciar a noção, ao menos, de que a educação irá resolver, emergencialmente, os problemas que assolam uma maioria no nosso país. Ou senão você pode também subverter os ditames democráticos, fica a seu critério.
Pra mim presidente tem que ser eleito democraticamente, a formação dele de forma alguma há de ser pré-requisito para o exercício de um cargo de representatividade. Se fosse assim, seria anti-democrático. Opinião pessoal? Eu votaria num economista, agora o porquê disso já são outros 500.

Sugestões de leitura: "O famigerado" - Guimarães Rosa.
"Ler não serve pra nada" artigo do Diogo Mainardi.

trava-língua - fernando II

"Jamais caberá a todos praticar o uso correto de uma gramática quando não são dadas às ferramentas necessárias para a aquisição deste status."

Dá para ser mais óbvio?!? O meu ponto: todos devem estar CAPACITADOS para fazê-lo. Nem questiono de quem seja a responsabilidade por essa capacitação. Iniciativa pessoal? Pública? Privada? O ponto do argumento não é esse.

Não devemos aspirar por uma inteligibilidade nichada, para substratos universais específicos, mas sim por uma universal. Você deseja que continuemos nesse mundo de disparidade social, cada classe com o próprio dialeto, e o pobre, especificamente, cada vez mais marginalizado? Você REALMENTE acha que o conhecimento da língua não serviria como elemento de inclusão social? Idealmente, todos deveríamos estar capacitados para a leitura de um livro, de um jornal ou mesmo para a compreensão de um maldito horário político, e não somente para a conversa coloquial com os vizinhos.

"ele não se desdobra em políticas públicas avessas à educação, ou um "desprezo" quanto ao repasse financeiro destinado a este setor..."

Sério?!? Você tem visto TODOS os resultados da nossa esplendorosa educação ante os outros países? Você já viu aquele estudo recente que compara a receita tributária total com o investimento em educação? E a qualidade desse investimento, então? Quer olhar a prioridade dada a essa área por Chile e todos os Tigres Asiáticos, e a clara repercussão de tal iniciativa em suas economias e sociedades, e compará-la ao que acontece por aqui? A equação do investimento Estatal em educação, saúde, infra-estrutura, segurança pública, etc, é, POR EXCELÊNCIA, a responsabilidade primeira do presidente, senhor do Poder Executivo. Pode ter certeza de que suas decisões nessa seara, assim como nas outras, são guiadas por crenças, dogmas, valores pessoais.

"se é que existe..."

Sim, existiu. Não há necessidade de mencionar postura, ações ou não-verbais. O Lula falou isso, em várias ocasiões. Lembro-me especificamente de uma vez no rádio, em 2006. O resto da lista deve-se lembrar de outras.

"A resolução do exercício é simples. Contanto que ambos os presidentes sejam eleitos democraticamente eles são equivalentes. Se para você a competência funda-se na educação e você votou pensando assim, sem problemas."

Não me venha com sofismas. Nunca disse que a competência funda-se TÃO SOMENTE na educação. Caráter, bom-senso, inteligência interpessoal, raciocínio e cognição, repertório cultural - podemos enumerar novecentos fatores que determinam a competência de um presidente. Muitos, por sinal, aprimorados com a educação.

Fiz apenas uma mera provocação, não respondida por você. O mesmo sujeito, no mesmo cargo, em duas realidades hipotéticas - em uma, ele não concluiu o ginásio; na outra, concluiu o ensino superior. Não questionei o mérito democrático ou a LEGITIMIDADE do sujeito - o fraco gancho da sua resposta -, apenas a COMPETÊNCIA do sujeito para solucionar os problemas inerentes ao seu cargo.

4.12.07

porque sou corintiano e fiquei feliz com o rebaixamento

Sou corintiano e queria, sinceramente, que o Corinthians caísse. Por esse pequeno fato, estou feliz; pelo quadro todo, o absurdo desse processo endêmico que culminou nesse final de semana, é óbvio que estou triste.

Hoje em dia, não enxergo sentido em torcer por um time de futebol. Como achar identificação em plantéis que mudam a cada 6 meses, ou em torcedores dos mais diversos substratos sociais, sem qualquer tipo de valor principal, coesivo, maior do que cada indivíduo. Não há uma causa por trás de um brasão. Não há mais times de operários, times de uma cidade - com jogadores e comissão técnica nascidos lá -, times com algum traço de personalidade - esse é sofisticado; aquele, aguerrido. Por isso, após a correnteza adolescente de debates em classe de aula e programas futebolísticos em família, já não torcia muito para o Corinthians.

Mas o tempo ainda piora a situação: constanto, cada vez mais, que perder a cabeça com algo tão inócuo aproxima-se de fanatismo religioso. É culto ao nada ou desculpa para submergir-se na anonimidade do coletivo e agir feito um animal, arrumando brigas em bares, jogando copos de urina nos outros e vivendo extremos emocionais que carecem de qualquer racionalidade. As pessoas realmente precisam de manuais, códigos e protocolos; mais importante, precisam fazer parte de algo, sempre.

Mas, especialmente, não me importei com o descenso do Corinthians porque, na minha cabeça, torcer para ele seria como compactuar com tudo aquilo que mais desprezo: corrupção, sujeira, práticas escusas. Torcer para a obra dessa administração seria como torcer por traficantes, sequestradores, estelionatários. Não, eu não quero o sucesso dessa gente, nem dessa escola antiquada da malandragem que macula o futebol brasileiro. Qualquer tipo de castigo - prisão, exclusão ou uma queda para a segunda divisão - cai bem aos meus olhos para bandidos.

Tenho dó dos jogadores, que não faltaram com esforço, mas recursos técnicos. E, óbvio, tenho alguma pena da torcida, que realmente, mesmo que de forma cega, dedica sua vida à bandeira alvinegra. Mas, nesse final de semana, creio que houve justiça, mesmo que por uma vez, no nosso futebol.

9.11.07

mojica levado a sério

Na capa da Ilustrada de hoje, lê-se, em letras garrafais, "Mojica (levado a sério)". Em tom de finalmente: "Ah, finalmente, o trabalho do Mojica recebe a tão merecida atenção". Refere-se à mostra vindoura de seus filmes.

Balela.

Tudo o que leio dele, há muitos anos, possui esse mesmo tom de revelação e reverência. Sempre vejo-o tratado como gênio incompreendido, figura cult, astro no exterior. "Levado a sério" - enfim, pela primeira vez! - doze, treze vezes.

Cada autor de matérias como essa sente-se como o responsável por jogar uma nova luz sobre a obra de Mojica. Mas esta já estava iluminada, em projetos, jornais, revistas e sites, há tempos. Acho essa prática de um desrespeito ímpar. Por que não tratar uma mostra de seus filmes como um evento regular, ao invés de uma reparação por injustiças passadas? Por que jogá-lo nesse gueto de marginal, após tamanha exposição (e aceitação) na mídia mainstream? Fazia sentido no passado. Não mais.

1.11.07

rabo preso

"Uma semana antes da votação do relatório final da CPI do Apagão Aéreo no Senado, a TAM, um dos objetos da investigação, distribuiu 400 ingressos do espetáculo "Alegría", do Cirque du Soleil, a congressistas e autoridades em Brasília, entre eles o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, o presidente da CPI, Tião Viana (PT-AC) --hoje presidente interino do Senado--, e mais quatro integrantes da comissão.

Todos eles compareceram ao espetáculo, fechado pela TAM só para convidados --cerca de 1.600, entre eles clientes, jornalistas e beneficiários de entidades assistenciais. O evento ocorreu na noite de quarta-feira da semana passada."


Saiu na Folha. Leia a notícia, na íntegra, aqui.

27.9.07

sobre os filmes publicitários da linha sony bravia

Só queria dizer que EU NÃO ME IMPORTO. Por que tanta hype por causa de bolinhas coloridas descendo uma ladeira? Se achei legal quando vi pela primeira vez? Claro que sim, mesmo com o mala do José Gonzalez mutilando Heartbeats, do The Knife. Mas não entendo como as pessoas perdem tanto tempo de suas vidas (e espaço para coisas potencialmente mais legais) por causa da expectativa pelo novo filme da linha, Play-Doh. Só queria entender como isso impacta QUEM COMPRA o produto, ao invés de um monte de publicitários bitolados.

25.9.07

levou no blog

Uma funcionária da Nintendo, Jessica Zenner, foi demitida do seu emprego dos sonhos porque postou a seguinte pérola (tradução livre) em seu blog:

"A vantagem de trabalhar com uma mulher esculhambada, com distúrbios hormonais e pêlos faciais, é que agora tenho uma nova desculpa para beber até cair".

A turminha esquece que blogs são públicos. Acho hilário. O que ela deveria fazer: publicar notícias e comentários sobre o seu campo profissional, para impressionar gente da sua área, como outras 900 mil pessoas fazem.

Acho tal prática de uma mediocridade ímpar - sério, não basta perder 10 horas por dia com coisas tão banais, em um mundo com tanta coisa interessante? -, mas, pelo menos, é uma alternativa que pode até descolar um emprego ou aumento para você, ao invés de te deixar sem salário.

18.9.07

o humor de cada um



Esse é provavelmente o vídeo mais sem-graça que já vi. E o sucesso foi tamanho, que o clipe virará um longa-metragem produzido pela MTV americana.

Não existe um ponto de saturação no humor dos vídeos do YouTube, depois de tantos raps, palavrões gratuitos, figurinhas curiosas e motes fáceis? Estar no YouTube torna o vídeo mais engraçado? Como algo tão chulo, babaca, rudimentar e clichê pode ser viralizado de tal maneira, senão por uma preguiçosa classificação das pessoas, que vêem os ganchos (rap, figurinhas curiosas...) e imediatamente repassam o vídeo aos amigos? Se alguma alma aí tiver achado isso engraçado, por favor, me ajude a entender o que se passa.

31.8.07

criatividade com argila

Float, de Marie E.V.B. Gibbons

Adivinha quem devia ser a melhor aluna de educação artística na escola.

30.8.07

desilusão

Queria muito ler The God Delusion, do Richard Dawkins. Cheguei a cogitar comprá-lo em inglês, na Amazon. Mas a vontade arrefeceu quando recebi um e-mail da Saraiva, anunciando, com destaque, a chegada da edição nacional. Sério? Richard Dawkins merecendo mailing especial da Saraiva?

Entendi a atenção especial quando abri a mensagem: trata-se de um livro polêmico. Ponto. Aí está o seu grande selling point. As pessoas não se interessam muito pelo autor e seus argumentos: o que importa é que The God Delusion causa. "Cara, estou lendo um livro de um sujeito que diz que Deus não existe! Muito lôco!"

Desde quando ser polêmico é mérito?

28.8.07

crank that

Imagine o É O Tchan. Agora, imagine o É O Tchan, versão web 2.0.

Um sujeito chamado Soulja Boy (pronuncia-se Soldier Boy) criou uma dancinha mirabolante para a sua música Crank That. As pessoas gostaram tanto que resolveram publicar vídeos delas próprias tentando acertar os 867 passos da coreografia. Milhares de pessoas. Nasceu um fenômeno pop.

Soulja Boy lançou então um vídeo oficial da música, no qual quebra a quarta parede e reconhece o estrago que causou no mundo real, mostrando pessoas arriscando os passos nas ruas e um site similar ao YouTube. Enquanto isso, caracteres no rodapé incitam o público a comprar ringtones e outros produtos da grife Soulja Boy. Muito maroto.



Para garantir a fidelidade de sua dança, Soulja Boy também publicou um vídeo oficial de instruções para a coreografia do refrão. Quem quiser se distanciar dos amadores e aprender TODOS os passos deverá comprar um DVD, disponível no site oficial do jovem.



Esse aí comprou o DVD.

24.8.07

espaço de sobra

o céu da minha casao céu da minha casa

A turma do Google adicionou um feature ao popular (e viciante) Google Earth que permite a observação de aproximadamente 100 milhões de galáxias e 200 milhões de estrelas.

Batizado de Google Sky, o novo modo está incluso na última versão do Earth, disponível para download aqui.

Fui fascinado pelo espaço por um bom tempo da minha infância - várias das redações que escrevia acabavam encontrando um jeito de chegar às estrelas; uma tinha planetas como personagens!

É claro que não existia coisa semelhante ao Google Sky na época. Minhas referências provinham de enciclopédias, com suas fotos desbotadas e tabelas de factóides. Imagino que a minha relação com o espaço não seria tão mítica caso eu fosse uma criança hoje em dia. Uma exposição tão transparente de um assunto tão misterioso não deixa de ser incrível, mas furta-nos da graça de preencher lacunas com a imaginação.

22.8.07

rock alternativo

Ao escrever sobre o Superdrag no meu outro blog, Dominódromo, fiquei intrigado com o desaparecimento do rock alternativo.

Quem se lembra de ouvir ou falar de rock alternativo? O termo nem existe mais hoje em dia, e aquela sonoridade, tão peculiar e nichada aos nossos ouvidos de então, desapareceu.

Olhando para trás, com a percepção enviesada pela terminologia indie, tenderia a enquadrar superficialmente aquele bolo de bandas sob a alcunha de indie rock noventista. Mas a verdade era outra: muitas faziam parte de majors, com videoclipes na televisão, singles nas rádios e vendas consideráveis de discos. A MTV, por exemplo, dedicava 2 horas e meia diárias (!) ao rock alternativo com o Gás Total, noves fora o clássico Lado B.

A partir de 96, as majors desistiram do rock alternativo, mandando essas bandas embora após um ou dois discos, mesmo após gastarem milhões em seus contratos. Suas fichas foram destinadas a outros estilos, como o punk, o big beat e o new metal. Foi essa ação das gravadoras que induziu o público a cansar do gênero e interessar-se por outros "produtos" (uma estratégia deveras inteligente, similar à da Apple)? Ou as pessoas genuinamente cansaram-se do rock alternativo, forçando as gravadoras a partirem para um plano de contingência?

20.8.07

elite branca

Alguém já ouviu The Forms? A banda é boa e tem um ótimo disco, "Icarus", produzido por Steve Albini, lendário produtor, músico e jogador de pôquer.

Aqui, dois membros do grupo, os gêmeos Jackson e Brendan, prestam tributo ao programa que azeitou sua adolescência, Beverly Hills 90210, vulgo Barrados no Baile. Notem a técnica dos rapazes.



Ah, as lembranças logo vêm à tona: as costeletas, os topetes, os adolescentes de trinta e poucos anos, as cenas ridículas de ação, os serviços públicos sobre drogas, gravidez na adolescência, câncer de mama, violência doméstica e vício em jogatina.

O drama sofrido pelos personagens do seriado fazia a vida da Helen Keller parecer a do Jorginho Guinle. Como alguém pode ter a coragem de dizer que a elite branca não sofre? Vejam pelo que esses jovens bem-nascidos tiveram que passar:

David - o pior músico e diretor de vídeos de todos os tempos, virou depressivo e acabou por buscar inspiração no crack;
Steve - o atleta babaca, com suas calças brancas, o afro loiro e o uso de esteróides;
Valerie - a sociopata da paróquia, era mentirosa patológica, drogada e assassina do próprio pai. A personagem foi criada para substituir o papel da Brenda, interpretada pela Shannen Doherty, mala sem alça afastada pelos produtores do programa devido ao seu complexo de diva;
Kelly - a moça mais azarada da história: foi estuprada - e assassinou o estuprador -, sofreu lavagem cerebral e entrou em um culto, virou alcoólatra, ficou viciada em cocaína e também em pílulas para emagrecimento, sofreu queimaduras sérias durante um incêndio em uma festa rave, abortou, levou um tiro em um assalto, foi assediada por seu patrão e virou refém de sua roommate na universidade.

Bons tempos.

17.8.07

disciplinando seu cachorro com sarcasmo e humilhação verbal

gangsta crooning

Como Robert Goulet, lendário crooner de Las Vegas, daria um toque de classe a alguns dos maiores sucessos do rap americano.

Foi lançado um DVD especial do Saturday Night Live com as melhores sketches do Will Ferrell em seus muitos anos de programa. O material está no YouTube, na íntegra, dividido em 12 partes. A primeira está aqui. Para ver o resto, basta seguir os vídeos relacionados.

16.8.07

puxando brasa para a própria sardinha

Um sujeito criou um programa capaz de rastrear os responsáveis por qualquer edição já realizada no Wikipedia. Como era de se esperar, os mais interessados em tirar informações polêmicas ou agregar fatos edificantes a cada tópico eram os próprios objetos dos verbetes. Dentre os exemplos citados nesse artigo da Wired estão a CIA, alguns políticos americanos e, especialmente, a Diebold.

Para quem não sabe, a Diebold e a ES&S, empresas de um mesmo dono, são responsáveis por 80% das urnas eletrônicas americanas.

E o que a turminha da Diebold apagou no próprio verbete? As críticas à fraudabilidade de suas urnas, os artigos que apontavam para evidências de manipulação nos votos da eleição presidencial de 2004, o fato do CEO da empresa ter sido um dos patrocinadores da campanha Bush...

Façamos um breve liga-pontos entre: a) o desespero desses caras em sumirem com quaisquer fontes de suspeitas; b) essa listinha de tidbits sobre 2004, que aponta a discrepância entre os votos de cédula e os eletrônicos, e também entre as pesquisas boca-de-urna e os resultados; e c) esse destrinchamento de como a exploração das urnas eletrônicas teria ocorrido. Difícil não ficar ainda mais desconfiado de que sim, houve algo de podre na vitória do Bush.

vi dois filmes muito bons recentemente

Foram Manderlay e Thumbsucker (acho que o nome no Brasil é Impulsividade). Estou com preguiça de escrever alguma resenha pretensiosa, mas não queria deixar de destacá-los aqui.

São filmes bem diferentes entre si, unidos pela capacidade de despertar questões dentro de mim: o primeiro, numa esfera maior, sobre cultura, sociedade, heranças históricas e determinismo; o segundo, numa esfera bem pessoal, sobre família, autocrítica, expectativas e identidade.

dominódromo

Tenho um novo blog, Dominódromo, no qual falarei somente de música. Espero conseguir publicar coisas legais a serem ouvidas, na taxa de um MP3 por dia. A empreitada será compartilhada com a senhorita Karen Kopitar.

O Disappearer continuará a ser a salada de sempre.

15.8.07

ô povinho

Brasileiro é campeão de roubo de carro no Japão (Folha Online)

"De 2005 para 2006, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, o número de brasileiros presos no Japão subiu de 355 para 412 -- alta de 16%. No mesmo período, o consulado do Japão em São Paulo registrou queda de 22% na concessão de vistos de longa permanência.

(...)

Entre os estrangeiros acusados de crimes e presos em 2005, os brasileiros estão em segundo lugar, representando 12,5% do total de detenções. Sobre o total de roubos cometidos por estrangeiros, os brasileiros são responsáveis por 34,7%, só atrás dos chineses. Sobre o total de roubos de veículos cometidos por estrangeiros, 59% são de responsabilidade dos brasileiros."

amy winehouse: "i think i'll have to go to rehab"

Segundo o The Sun, A Amy Winehouse, que hoje toca até na Jovem Pan, foi internada em um hospital de Londres, sob "grave estresse", um claro eufemismo para OVERDOSE.

O que encontraram no estômago da moça, após uma refrescante lavagem gástrica? Entorpecentes sortidos, provavelmente deglutidos com uma garrafinha de whisky, para descerem macios e reanimarem.

Por falar em reanimação, parece que chegaram ao ponto de injetar adrenalina.

O The Sun é fofoqueiro, mas parece que a história é verdadeira. A Island soltou uma nota cancelando shows da semana vindoura, o que seria um tanto exagerado para apenas um estado de "grave estresse".

Acho que ela devia ouvir os amigos e ir para a tal "Rehab".

7.8.07

desorientação vol. 1

Buscas recentes no Google que acabaram por desembocar aqui:

"penetrações chocantes"
"musica reivi"
"roupas para rave"
"blogspot de receitas de bolos"
"reivi"
"carta de despedida colega de serviço"
"suruba meninas"
"quero melhorar mimnha caligrafia"

6.8.07

samba de uma nota só

ácido lático

- "Cansaço por viver"?... Como assim? A fadiga é para agentes, heróis, flechas de convicção. O fardo da indefinição, inseparável às ações, é o que custa a ser suportado; a reação é apenas uma, simples, limpa e elementar.

- Mas a aceitação do absurdo da vida é um esforço calado e imóvel. Ela consome o vigor, mas de pouco em pouco, impedindo a dor de vir à tona, certeira, pela primeira vez.

- E como seria sentir algo assim, tão intenso em sua incompreensibilidade?

- Por que a curiosidade? Deixe essas tangentes de lado e atenha-se mais à sobrevivência, enquanto ainda a tem como opção. Que tipo de lunático arremessaria o próprio corpo contra o colapso? A caimbra está logo a frente, conveniente, bastará reagir de acordo.

3.8.07

garota, eu vou pra curitiba

O Grist publicou uma relação das 15 cidades mais verdes do mundo e, na terceira posição, dando o ar de sua graça, consta Curitiba.

Por que tanta moral? Bem, três quartos dos curitibanos dependem do transporte público, sua área verde conta com impressionantes 54 metros quadrados por habitante e o índice de satisfação dos moradores com a cidade é de 99%.

Enquanto isso, 70% dos paulistanos disseram que suas vidas seriam mais felizes se morassem em Curitiba. Ouch.

Para aprender uma lição de urbanismo e planejamento executivo, vale a pena dar uma olhada nesse artigo do commmondreams.org, uma das melhores coisas que já li sobre o assunto.

Sim, é possível reverter o círculo vicioso de uma cidade em expansão, equilibrando arrojo e bom senso ao permutar os lugares-comuns do equivocado urbanismo brasileiro por soluções criativas e, acima de tudo, humanistas. Parabéns para o Jaime Lerner.

parece que está esquentando de vez...

O que é uma pena. O frio estava divertido: o suadouro tinha dado trégua e dava para usar gorro (derelicte!*) e brincar de ser europeu. O único problema dessa semana atípica era a minha total incapacidade de trocar o canal da TV.

Sou daqueles que imputa os números, 0 - 5 - 2, ao invés de subir e descer pelos canais. Entretanto, no domingo, de molho na cama e morrendo de medo de ficar doente, a cada vez que tentava mudar o canal, errava cinco, seis vezes seguidas as teclas do controle remoto, de tão travados que estavam os meus dedos.

Você sabe que está frio quando se sente como um titereiro incompetente, dando ordens a um corpo satisfeito com o quase.

* - "Let me show you Derelicte. It is a fashion, a way of life inspired by the very homeless, the vagrants, the crack whores that make this wonderful city so unique." - Mugatu

prova de que o mundo é injusto, vol. 1

Sessões de yoga, pilates e RPG são longos rituais de esticamentos bizarros das costas que, miraculosamente, acabam colocando suas vértebras no lugar certo.

Por que será então que, ao menor espreguiçamento ou virada mais brusca no cotidiano, fatalmente suas costas saem do lugar?

contexto é tudo

Alguém se lembra daquela música do Paralamas do Sucesso?

"Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou:
"são trezentos picaretas com anel de doutor"..."

Rarará.

2.8.07

o efeito republicano


Gráfico que ilustra a crença de 32 países europeus, Estados Unidos e Japão na teoria evolucionista. Dêem uma olhadela no penúltimo lugar...

E ainda reclamam do fundamentalismo dos outros.

1.8.07

cristalização

Ando em busca de um pouco de euforia. Por que ela se esconde tanto, hoje em dia? Na infância, estava sempre lá, pronta para emergir à primeira chance - chutando uma lata, correndo com o cachorro, fazendo uma barraca de cobertores na sala, subindo em uma árvore. Bastavam movimentos bruscos do corpo, desafios às regras e besteiras ditas.

Na adolescência, a euforia afunilou-se um pouco, escorrendo para a descoberta da música própria, que fazia sentido para você e mais ninguém, e as primeiros experiências com garotas, claro. A música era uma satisfação artística, a identificação de si próprio na obra de estranhos; com as garotas, a satisfação era fisiológica mesmo, uma solução à angústia do próprio corpo. Como ambas as novidades era vividas de forma intensa, implacável! O coração palpitava, forte, alimentando um cérebro que não largava o osso - o mesmo disco era ouvido por um ano, todas as noites, com encarte na mão; qualquer forma de contato na curva de relacionamento com uma garota, do primeiro "oi" ao primeiro beijo, era o ápice do dia.

Imagino que cada um tenha o próprio pretexto para a euforia. Olhando para trás, percebo que os meus momentos eufóricos eram descobertas sensoriais, bens que se rarefazem no decorrer dos anos, quando o mundo, as pessoas, o próprio corpo e a personalidade tornam-se velhos conhecidos. Tudo é colocado em gavetas, tudo é preconcepção, tudo é reação. Como seria possível encontrar essa descoberta sensorial, hoje, na vida que levo?

A arte ainda me proporciona descobertas sensoriais, mas de forma cada vez mais escassa. Muitos entretanto conseguem extrair muito dela, quase como se por oxigenação. Parecem-me seres iluminados, em consonância com outra frequência à minha - se não sinto isso de forma natural, que pelo menos me esforce em dobro!

Existem também as drogas: não as consumo, mas parece que elas dão conta do recado para quem o faz. Parando para pensar, são atalhos de um mesmo processo, pois mudam a percepção das coisas e, por consequência, geram picos de euforia, sem a angústia dessa procura infrutífera e existencial por momentos reais que inspirem o mesmo estado. Uma euforia Nissin Miojo, instantânea, embalada e encontrada no mercado - basta adicionar água.

Verei uns filmes do Bergman no final de semana para ver se me inspiro a perseguir mais a arte e ser um pouco menos cínico; caso os planos dêem errado, fumo crack.

30.7.07

jornalismo colaborativo

Uma dupla de jornalistas do The Guardian realizou uma investigação global de 5 anos sobre um esquema milionário de propinas entre a BAE, gigante inglesa do segmento bélico e quarta maior empresa do mundo, e a realeza da Arábia Saudita.

O detalhe mais fascinante sobre a história: ao invés de publicarem a investigação no jornal ou escreverem um livro sobre o assunto, a dupla criou um website, BAE Files, sem restrições de formato e espaço, com todos as evidências e documentos encontrados, e de braços abertos para colaborações de jornalistas do mundo inteiro.

Para um esquema de proporções épicas e abrangência multicontinental, uma dupla de jornalistas e uma capa de jornal não bastam. Uma iniciativa como a do BAE Files permite o aprofundamento no assunto, a investigação coletiva de gente presente no itinerário do caso e a atualização constante e imediata a cada achado, ao invés de retratos estáticos e fechados, sacramentados no formato impresso. Taí o futuro do jornalismo.

Para saberem mais sobre o assunto, leiam essa matéria da Press Gazette.

26.7.07

25.7.07

mais para porco do que para lula


Em um evento no Pará, Lula, após abocanhar um bombom de cupuaçu, jogou o seu embrulho no chão.

Em um Estado laico, o presidente deveria ser o compasso moral da população, correto?

deixa eu ver se entendi

Você usa a privada suja, aperta a descarga suja, abre a torneira suja da pia suja, para então lavar as mãos (adivinhem) sujas. Agora, com as mãos limpas, você fecha a mesma torneira suja - o primeiro lugar no qual todos põem as mãos após o serviço - e, não satisfeito, ainda abre a maçaneta ou trinco sujo do banheiro.

Qual seria o propósito de lavar as mãos, então, senão o de aliviar a consciência?

Sob essa luz, aquelas torneiras com sensor não parecem tão afrescalhadas. De fato, o banheiro deveria ser uma zona telecinética, jedi, sem as mãos: descarga com comando de voz, pia com sensor, secador de mãos... Em princípio, somente a porta poderia ter um botão de abertura, afinal, sempre seria usada após a lavagem das mãos... Mas nunca podemos ignorar o potencial espírito de porco da nossa espécie - dê uma olhada ao seu redor.

Idéia de um milhão de dólares (*drumroll*): UMA PORTA DE BANHEIRO COM UM MECANISMO DE ABERTURA INTERNA COM OS PÉS.

Vou largar família, namorada, amigos, cachorros, trabalho e país para inscrever-me no American Inventor. Só preciso de uma história triste para comover os jurados - talvez um discurso sobre como, pela busca do meu sonho, larguei família, cachorro, trabalho...

24.7.07

opa! melones!

morte por cafeína


Segundo essa calculadora aqui, seriam necessárias ou 154 latas de Red Bull, ou 104 latas de Burn, ou 160 xícaras pequenas de café espresso, ou 357 latas de Coca, OU SOMENTE 44 CAFÉS GRANDES DO STARBUCKS, para eu bater as botas por overdose de cafeína.

Será que algum yuppie frustrado já tentou abotoar o paletó em um Starbucks? Com um laptop a tiracolo, você poderia: fazer o cálculo da overdose, na hora, combinando diversas bebidas do Starbucks, para evitar enjôos; enviar sua carta de despedida aos contatos do gmail e deixar mensagens crípticas em seus profiles de comunidades virtuais; gravar vídeos no YouTube, enviar atualizações para o seu twitter ou fazer um lifestreaming (ou deathstreaming?) da sua degradação...

Um lampejo de vazio, coisa simples de acontecer em um local desses, e pronto. Suicídio executivo, web 2.0, ironicamente amparado pelo seu próprio pretexto. User-generated demise.

19.7.07

18.7.07

esse país não dá valor à vida

Acidentes nas estradas, latrocínios, não-atendimento em hospitais públicos. A leviandade governamental sempre causou mortes, mas de forma indireta. O dinheiro escoado da saúde, da educação, da infra-estrutura e da segurança pública eventualmente repercute em óbitos, mas estes pouco chocam a população: a concatenação causa-efeito é difícil; as mortes, mesmo constantes, são pulverizadas, silenciosas, sem fogos de artifício; a culpa sempre sobra para um coletivo indefinido, o sistema, eles - cadê a cara do bandido para cuspirmos nela?

Agora, vejam só, chegamos ao ponto em que politicagens, propinas, birras e interesses pessoais causam, diretamente, a morte das centenas de pessoas envolvidas na tragédia do vôo 3054, da TAM.

A situação não é tão extraordinária quanto parece. Brasileiro é leviano, egoísta, preguiçoso. O mesmo princípio do sujeito que fura fila, joga lixo na rua e pára na faixa de pedestres está aí, intacto, apenas em um cenário extremo, no qual as ações têm consequências magnificadas. Por que achar que a turminha envolvida nessa história não agiria conforme o que vemos nas ruas, todos os dias? A podridão vem do berço, endêmica, alimentada por um círculo vicioso de práticas e valores inconsequentes, de pai para filho, de colega para colega, de patrão para empregado.

Tento fazer a minha parte, todos os dias, sem exceções. Não roubo, não mato, não tiro vantagem, respeito as pessoas, trabalho para ganhar o meu dinheiro, poluo pouco, reciclo. Até pago os impostos, mesmo contrariado. No Brasil, país dos espertos, sou o chamado "tonto". Mas bastava saber que estava provavelmente certo na minha postura. Não mais.

Hoje, quero ir embora desse país. Quero que esses ufanistas do Pan fiquem aqui, para trás, levando bala perdida, caindo de avião, pagando imposto para nada, enquanto cantam o Hino Nacional, bebem uma caipirinha e acham que deus é brasileiro.

4.7.07

correnteza

Don't be like me. Salvation doesn't lie within four walls. I'm too serious to be a dilettante and too much a dabbler to be a professional. Even the most miserable life is better than a sheltered existence in an organized society where everything is calculated and perfected.

3.7.07

chloe sevigny vai à chopperia liberdade...


...because it's oh so ironic.

tokyo cuisine club

Indie rockers making migas

lou fai




Nove sujeitos da remota Dakota do Sul, provavelmente os únicos indies dentro de um perímetro de 200 km, decidem pagar tributo à banda de suas vidas, Broken Social Scene. Juntam trocados, compram uma pilha de instrumentos velhos e decidem, no palitinho, o que cada um tocará. A técnica é um mero detalhe: o que importa é registrar as melodias que latejam no consciente coletivo. Fazer, acima de tudo. O ótimo é o inimigo do bom. Se não sabem arpeggios ou escalas pentatônicas, que, pelo menos, toquem com o dobro de energia. Porque a música, acima de tudo, deve ser emocional, calorosa. Dez notas dentro de um segundo não movem as pessoas como corais entoando ba-ra-ra-ras em pura entrega litúrgica ou 9 instrumentos no volume máximo, baixando, ainda mais, o lo-fi da gravação, mas deixando clara a maneira como cada um dos We All Have Hooks for Hands vive de melodia e emoção.

15.6.07

as vinhas da ira

"Great people talk about ideas, average people talk about things, and small people talk about wine."
Fran Lebowitz

5.6.07

odeio compras

> Odeio a estupidez do estacionamento do Eldorado, que entrega suas 200 melhores vagas a valetes
> Odeio o descompasso das rodinhas podres dos carrinhos de supermecado.
> Odeio a constatação da minha dependência a mais de 300 produtos industrializados.
> Odeio a completa ausência de algum protocolo quanto à disposição do carrinho, agora vazio, no estacionamento.
> Odeio o infalível vazamento de algum produto bem tóxico de limpeza, sempre notado, com surpresa, ao toque.
> Odeio a humilhante genuflexão causada pelo rompimento da alça do saco de compras.
> Odeio a quase-gangrena dos dedos, estrangulados por dezenas de forcas plásticas, cujos alçapões são garrafas, latas e grãos.

4.6.07

metaloucura

Hoje, descendo a Groenlândia, vi um sujeito de terno e gravata puxando a guia de um cachorro imaginário. Que louco mais elegante!

Ao esfregar os olhos, constatei que era um segurança recolhendo a corrente do estacionamento de uma loja, para impedir os não-clientes de pararem seus carros lá. O louco era eu, enxergando coisas, em algum tipo de projeção do meu próprio estado.

A sanidade deve ir embora assim, um pino por dia.

1.6.07

virgem maria!

O sexo sempre foi viral, bem antes da internet. O relato da experiência de um repetente ou a mera alusão de um cenário sexual em um filme despertavam a curiosidade de toda uma sala de aula. Em questão de instantes, revistinhas de sacanagem circulavam pela classe, histórias sexuais mirabolantes viravam lendas na escola inteira, sessões escondidas de filmes pornográficos eram realizadas no primeiro instante em que alguém da turma ficava sozinho em casa. Poucos entendiam direito o propósito de tudo isso, mas todos tinham a certeza de que seriam mais adultos quanto mais próximos estivessem desse mundo, na estranha e competitiva busca pelo reconhecimento da própria maturidade. O sexo era mais um simulacro do "ser adulto", assim como o álcool e, especialmente, o cigarro. Qual seria o ponto em esperar anos para chegar à terra prometida, com tantos atalhos à disposição?

Em um futuro próximo, a prometida irrestrição no acesso à Internet permitirá o consumo de qualquer tipo de conteúdo, em qualquer lugar, a qualquer momento, por qualquer um. Será quase impossível blindar um adolescente motivado da pornografia online. Se ele não tiver a ferramenta de acesso (celular, palm, laptop, relógio, terminais, o que mais inventarem), bastará usar a de um amigo.

Quais seriam os efeitos desse contato irrestrito com a pornografia sobre uma geração inteira de adolescentes, disposta a absorver esses símbolos como dogmas da vida adulta? Estamos falando de uma nova educação, cujos referenciais são mulheres casadas sedentas pelo pepperoni de entregadores de pizza, pessoas que gostam de ser banhadas por urina e penetrações quádruplas!

Alguns palpites:

- A profissão de entregador de pizza será glamourizada.
- Os pornstars serão os novos Jaspion ou Changemen entre os meninos, modelos de atitude que evocam sucesso
- As meninas emularão o visual das pornstars - silicones, maquiagem, cintas-ligas, roupas de enfermeira...
- O sexo será mais casual, claro. Precisar de um relacionamento formal para conseguir tirar a calcinha de alguém será coisa de idiota.
- A idade média da primeira relação sexual cairá - o acesso irrestrito e precoce a gatilhos sexuais muito mais explícitos antecipará as primeiras experiências.
- Potencialmente surgirá a mentalidade do "quanto mais bizarro, mais adulto", que convencionaria práticas hoje chocantes para muitos
- As primeiras vezes serão especialmente frustrantes devido à expectativa de prazer cósmico cultivada pela cultura pornô, salvo autosugestão
- O choque de valores entre pais e filhos aumentará, e muito - será difícil lidar com a precoce naturalidade sexual de um filho de 12 anos, certamente. Imagine descobrir que a festinha de aniversário no McDonald's terminou em uma suruba épica de rapidinhas no banheiro? E para convencer o moleque de que ele estava errado, então? O nosso maior propósito aqui não é a felicidade? Não seria o prazer um meio legítimo para a obtenção dela? Estaria ele errado em buscar a própria felicidade, contanto que tomasse as devidas precauções? Acho que, primeiro, precisaria ME convencer disso.

31.5.07

uma carta aos fernandos que são araújos

Resolvo pesquisar o meu nome no Google e acabo em centenas de outros Fernandos que são Araújos. Um é ministro das Relações Exteriores; outro, violinista; o restante divide-se entre pilotos, físicos, tenistas, militares, padres. Muitos de Portugal.

Onde será que fico em meio a tantos homônimos? Certamente não sou o Fernando Araújo mais renomado, brilhante ou engraçado. Melhor não pensar muito nisso...

E o nome em comum, implica em similaridades entre nós? Afinal, fomos tratados e dirigidos sempre pelo mesmo código fonético, durante anos e anos. Vocês representam a descrição sintética de quem sou, o título pelo qual sou conhecido, a minha forma simbólica. Certamente temos peculiaridades somente nossas, esculpidas pelo tal poder da palavra - talvez os Fernandos Araújos sejam notórios estaladores de dedos ou tranquem todas as portas que encontrem no caminho.

Não nego o meu egocentrismo em achar que sou a matriz de tudo, e vocês, realidades alternativas, tangentes de quem sou. Partiram de um mesmo ponto de partida, o nome, mas trilharam seus próprios caminhos de sucessos e fracassos, uma encruzilhada por vez: local de nascimento, família, escola... Uma pausa para observar um pássaro e, pronto, surge o Fernando Araújo padre; um embarque impaciente naquele ônibus lotado e, bingo, nasce o Fernando Araújo banqueiro.

Se você, Fernando que é Araújo, estiver lendo essa carta porque também buscou saciar sua curiosidade no Google, fico feliz. Espero que a vida venha tratando-lhe bem. Suas felicidades realizadas são a minha em potencial. E melhor que o meu nome seja uma benção, não uma maldição. Um tanto idiota, claro, mas olha quanta gente por aí que se acha grande coisa por dividir o signo com algum global. Um nome tem que ter mais significado do que isso.

26.5.07

meet the writers: anton chekov


A Barnes & Noble, maior rede de livrarias dos EUA, é conhecida por promover eventos chamados Meet the Writers, nos quais escritores lêem trechos de suas obras e respondem às perguntas dos seus fãs. Prato cheio para pseudointelectuais babacas - daqueles que adoram mencionar autores em conversa, sem terem lido os livros - baterem o ponto e compilarem assunto suficiente para impressionar os ainda mais leigos (porém menos pretensiosos) ao seu redor.

Pois bem: um grupo de "produtores independentes" resolveu homenagear os 100 anos da morte de Anton Chekov com uma seção especial de Meet the Writers... Com o autor russo em pessoa... Dentro de uma Barnes & Noble... Com direito a leitura de trechos de seus livros, em russo...


... E uma banquinha na qual o próprio vendia seus próprios livros, autografados, por dois dólares cada, montada após o evento.


Genial.

25.5.07

polifonia







All I Know is Tonight... A música é de 2005, ano no qual conheci de fato o Jaga Jazzist, e hibernou na minha memória musical, hoje um mostruário de medianas bandas novas, mais catalogadas do que ouvidas.

Dois anos depois, em um daqueles estranhos lampejos involuntários da mente - não lembro de qualquer tipo de gatilho neurolinguístico, exceto uma pesquisa sobre o Mick Jagger -, veio a lembrança de All I Know is Tonight. Foi como uma reação imunológica do meu corpo ao seu presente estado de apatia. O diagnóstico, rápido, rendeu uma prescrição de sublimação lícita e discreta: 10 noruegueses, harmonizando instrumentos e sintetizadores como nunca ouvi antes.

All I Know is Tonight pode ser rotulada como um post-rock que não chateia, consistentemente trazendo ganchos melódicos à tona; metais sutis e seguros, sem o egocentrismo, o engarrafamento de notas, a estridência; vocais que viram instrumentos, coadjuvantes de algo muito maior; motifs que circulam com relevância. Música rica, orgânica, cheia de camadas que progridem sem ordem ou padrões; a felicidade de um acerto lotérico, 1 de 1.000.000, que resulta no delicado equilíbrio de um ecossistema de 10 instrumentos.

Como é bom lembrar que ainda posso ser arrebatado de tal maneira.

24.5.07

em termos com o passado







parakit - suburban kids with biblical names

i'm going back to the place i was born
my favorite hood
hallelujah!
i believe i've found what i came here for
i used to roam the streets on skateboards with cheap beer
a little punk
hallelujah!

found my old accordian
used to play it in the sun
went for a snack and a bottle of wine
didn't do that much
my life defined
all my friends are guitarists
and we know how to have fun
watching the kids build the tents outside
got me thinking about the times

i'm going back to the place i was born
my favorite hood
hallelujah!
i believe i've found what i came here for
i used to roam the streets on skateboards with cheap beer
a little punk
hallelujah!

and the tags are still there
meat is murder and pavement
i used to wonder when i went for a walk
if they meant pavement the band
or if it was just coincidence


Sempre a nostalgia... Os 5 minutos de felicidade decorrentes de um bom momento, seguidos por anos de conformismo no reconhecimento de que eles não voltarão mais.

A vida deveria ser uma sequência de pequenas euforias, sempre encerradas com a mais completa amnésia; euforia, amnésia, euforia, amnésia... Uma vida inteira de primeiras descidas pela colina, sentado no papelão, sem o tédio da repetição, o surgimento de preocupações, a cobrança dos outros, a ação corrosiva do tempo.

23.5.07

study: 38 percent of people not actually entitled to their opinion

CHICAGO — In a surprising refutation of the conventional wisdom on opinion entitlement, a study conducted by the University of Chicago's School for Behavioral Science concluded that more than one-third of the U.S. population is neither entitled nor qualified to have opinions.

"On topics from evolution to the environment to gay marriage to immigration reform, we found that many of the opinions expressed were so off-base and ill-informed that they actually hurt society by being voiced," said chief researcher Professor Mark Fultz, who based the findings on hundreds of telephone, office, and dinner-party conversations compiled over a three-year period. "While people have long asserted that it takes all kinds, our research shows that American society currently has a drastic oversupply of the kinds who don't have any good or worthwhile thoughts whatsoever. We could actually do just fine without them."

In 2002, Fultz's team shook the academic world by conclusively proving the existence of both bad ideas during brainstorming and dumb questions during question-and-answer sessions.


Acho que ganho mais lendo o The Onion do que a Folha.

18.5.07

o meu segredo

O único livro de auto-ajuda que eu leria seria sobre como lidar com pessoas que vivem de auto-ajuda.

16.5.07

contrato velado

"PROCURA-SE: ESCRAVA BRANCA

Mulher jovem, muito bonita, interessada em obter moradia, conforto e favores sexuais em troca de presença permanente em casa e favores sexuais irrestritos. Magra, levemente fornida, e com uma excelente coluna vertebral. Nível cultural mediano ou elevado. Dotes culinários e musicais serão altamente apreciados. Período de avaliação de 6 meses, possível estendimento para contrato permanente. Interessadas mandar e-mail com foto e descrição pessoal para..."


Trecho de Escrava Branca, conto do livro Dentes Guardados, de Daniel Galera

pílula amarga 3

Maior assincronia entre trilha sonora e cena - Os Intocáveis, quando o palacete de Al Capone é apresentado.

pílula amarga 2

Momento musical mais indigesto e forçado na história do cinema - Beleza Roubada, quando Liv Tyler "bota pra quebrar" ao som de Rock Star, do Hole.

pílula amarga

Música que todo mundo gosta (garotas, principalmente), e eu odeio - Blister in the Sun, Violent Femmes

11.5.07

um lembrete para o não-enlouquecimento


"Whether we like it or not, we are all bound to the earth with our experience of life and the reactions of the mind, heart, and eye, and our sensations, by no means, consist entirely of form, color, and design."

27.4.07

dá para ser mais claro?

"There are four irreducible objections to religious faith: that it wholly misrepresents the origins of man and the cosmos, that because of this original error it manages to combine the maximum of servility with the maximum of solipsism, that it is both the result and the cause of dangerous sexual repression, and that it is ultimately grounded on wish-thinking.

I do not think it is arrogant of me to claim that I had already discovered these four objections (as well as noticed the more vulgar and obvious fact that religion is used by those in temporal charge to invest themselves with authority) before my boyish voice had broken. I am morally certain that millions of other people came to very similar conclusions in very much the same way, and I have since met such people in hundreds of places, and in dozens of different countries. Many of them never believed, and many of them abandoned faith after a difficult struggle. Some of them had blinding moments of un-conviction that were every bit as instantaneous, though perhaps less epileptic and apocalyptic (and later more rationally and more morally justified) than Saul of Tarsus on the Damascene road. And here is the point, about myself and my co-thinkers. Our belief is not a belief. Our principles are not a faith. We do not rely solely upon science and reason, because these are necessary rather than sufficient factors, but we distrust anything that contradicts science or outrages reason. We may differ on many things, but what we respect is free inquiry, openmindedness, and the pursuit of ideas for their own sake."


Christopher Hitchens, God Is Not Great: How Religion Poisons Everything

Leia mais aqui, na Slate

14.3.07

heaven is a feeling i get in your arms

Não sei bem o motivo pelo qual Trophy, do Bat for Lashes, loopa incessantemente na minha cabeça. Não é uma música que faz o meu tipo, nem salta aos ouvidos nas primeiras audições.

Trophy é insidiosa; seu dano, endógeno. A maldita surge apenas após dias de abrigo no rol das músicas ouvidas e esquecidas. A primeira manifestação logo vira coceira. Sem lógicas elaboradas ou razões maiores, torna-se necessário coçá-la em 1, 3, 5, 10 audições. Coisa fisiológica mesmo.

hard sell




Em protesto contra a falta de locais adequados para estacionamento em São Petersburgo (Rússia), homem pára jipe em cima de outro carro.
Folha Online, 13/03/2007

Hummer jogando sujo no marketing de guerrilha, hein?

8.3.07

niu reivi

Recebi um flyer que estampava, com orgulho, o termo new rave. Coisa de gente ignorante (ou muito esperta).

Até onde eu sei, a tal new rave, fenômeno recente, é a volta da cultura rave - festas épicas, roupas cítricas, fosforescência, drogas -, na Inglaterra, entre uma audiência que mal presenciou a primeira onda.

A new rave não se aplica ao Brasil. Povo diferente, cultura diferente, história diferente.

Aqui, ainda vivemos a cultura rave, anos depois do fim da mesma na Inglaterra. E essa nossa rave é outra, um evento para playboy, a via comum; a dos ingleses era uma antítese das fastidiosas rádios e casas noturnas da época, um contrafluxo.

Não faz sentido vender new rave no Brasil.

E fica pior.

Segundo o flyer, os DJs da festa tocariam new rave para a pista. Estranho. Você costuma ir a raves. Você não ouve rave. Na rave, toca psytrance, house, techno, drum n' bass, etc.

Essa incoerência primária gera discussões despropositadas acerca de um suposto gênero musical new rave: uns dizem que é música eletrônica com estética mais rock (Justice, Digitalism, Simian Mobile Disco, toda a turma Kitsuné-Modular), e a ridícula volta do remix, estragando todas as músicas das quais eu gosto; outros falam que é rock cheesy e sem pretensões, feito especificamente para pista de dança (daí os teclados cafonas e os sing-a-longs), como Datarock ou o próprio Klaxons, o EMF do século XXI (YOU'RE UNBELIEVABLE... OOOOOOOOOW!). Mas já vi jogarem Cansei de Ser Sexy, Hot Chip, Death from Above 1979 e The Gossip nesse bolo. Apples and oranges.

Ninguém conseguirá chegar a uma resposta contundente para a questão, pois tudo isso não passa de um engodo da mídia, uma grande bolha especulativa alimentada pela idiotice das pessoas.

Se não quiser passar vexame, diga que new rave é a música - sem distinção de gêneros -, que costuma tocar em uma suposta festa new rave, a versão contemporânea das antigas raves, que acontece lá na Inglaterra. Ponto. Agora é só copiar e colar essa definição, enviá-la para a sua lista de discussão, e marcar pontos com aquela menininha indie de óculos pretos e espessos, cujas lentes carecem de grau.

Pessoalmente, ainda prefiro a minha definição: new rave é desculpa para indie tomar pastilha e dançar eletrônico poperô. É farsa para achar que faz parte de algum movimento cultural relevante - uma espécie de carpe diem, no caso -, em meio a essa era de apatia ideológica.

7.3.07

biscoito da sorte?

Como, se quando o mordi, o maldito partiu em lascas afiadas? Agora, estou com um corte logo abaixo da língua, daqueles que levam meses para sarar.

Deveria comemorar por ele ter vindo com duas mensagens, ao invés de uma? Abriria mão dessa "sorte" para não ter o azar acima. Ainda mais quando as mensagens são medíocres desse jeito, ó:

- Não tente tirar a lua do fundo do mar.
- Conquiste uma clareza suave através da docilidade, encontrando seu lugar no mundo.

Do alto da minha generosidade, ofereço essas lições de sabedoria para quem estiver interessado. Podem ficar com elas. Vou me restringir à novela das oito para saber como devo encarar a vida.

6.3.07

sistemas e métodos

Como não estou com paciência para escrever, mas queria passar a minha impressão sobre os lançamentos musicais de 2007, resolvi criar um índice atrelado à expectativa que eu tinha para cada disco.

Para tornar o exercício mais simples, considere que a expectativa em questão é composta da seguinte maneira:

70% - qualidade do disco anterior (QDA);
20% - palpite pessoal sobre o disco / rumo da banda (PPD/RD);
10% - hype alheia (HA).

Cabe notar que a relação de discos abaixo foi estabelecida de acordo com o Nível Mínimo de Expectativa (NME). Dentre todos os lançamentos do primeiro semestre de 2007, apenas esses 13 discos conseguiram superar tal patamar.

Com vocês, o Índice de Resultado sobre a Expectativa do Papai Aqui (IREPA):

Aquém
Bloc Party
Clap Your Hands Say Yeah
The Rakes

Ao par
Deerhoof
LCD Soundsystem
Arcade Fire

Além
Modest Mouse
The Twilight Sad
Deerhunter

A vir
Interpol
Les Savy Fav
Radiohead
Voxtrot

28.2.07

boca na botija

"The ability to quote is a servicable substitute for wit."
W. Somerset Maugham

eu tento

"Men are never convinced of your reasons, of your sincerity, of the seriousness of your sufferings, except by your death. So long as you are alive, your case is doubtful; you have a right only to their skepticism."
Albert Camus

14.2.07

zeitgeist

Nesse último domingo, vi uma boa parte do Fantástico. Os destaques foram os seguintes:

1) Um bloco de longos minutos consistiu em levar o garoto atacado pela sucuri (e seu avô) para o Instituto Butantã. Esse foi o gancho mais ridículo que já vi para uma matéria. Foi hilário ver o cara do instituto explicando para os dois que a sucuri não se alimenta de humanos, mas que aquela especificamente tinha atacado o moleque porque estava com fome (?!?)

2) Contaram aquela história incrível da astronauta traída, mas acharam que o foco da matéria deveria ser o seguinte:

"É claro que essa história traz uma pergunta à mente de todos: dá para fazer sexo no espaço?"

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

O pior é que ainda colocaram o Marcos Pontes para responder à pergunta.

3) Uma matéria seguinte a uma entrevista com a mãe do João Hélio, que basicamente tentou culpar a elite - que sempre ignora os mais necessitados - pela animalidade dos assassinos. Falar que a injustiça social é o comburente do círculo vicioso do crime é bom senso; usar esse argumento para redimir o indivíduo pela crueldade de sua ação, como se ele não possuísse qualquer tipo de julgamento ou fosse um ladrão de padaria, é absurdo. Quase chutei a TV.

Essas são as manchetes da minha revista eletrônica semanal. Retrato claro do que interessa o brasileiro comum, corpo parasita da Rede Globo.

Quando vou procurar entender o que interessa uma audiência supostamente mais "qualificada", com acesso a internet e interesse diário em notícias - os leitores da Folha Online -, vejo entre as 5 notícias mais lidas do site uma coluna zapping, um crime digno de Notícias Populares e algo referente ao escândalo da semana na internet. Sempre.

Não noto distanciamento entre os dois públicos. Todos querem o factual. Assim fica mais fácil para começar uma conversa no bebedouro do trabalho.

Cada um tem seus gostos: música, filmes, religião, etc. Os fatos, entretanto, são compartilhados por todos - nosso mundo, por incrível que pareça, é um só. A utópica pauta comum, universal, capaz de suplantar crenças, valores e etnias, é muito mais simples do que argumentos mirabolantes de livros de auto-ajuda voltados à socialização.

Já que cansei de parecer um lunático, vou sempre soltar um "E o Lula, hein?" em meio a uma roda de pessoas e ver a mágica acontecer. Iniciarei a argumentação e depois balbuciarei palavras que jamais me derrubem de cima do muro. Sem polemizar ou me comprometer pela minha ignorância e total ausência de senso crítico, serei amigo de todos. Não é isso que todo mundo quer?

9.2.07

com essa chuva toda de ontem...

... fiquei a pensar: como seria a crônica mais babaca relacionada ao assunto?

O gancho seria estúpido, claro, mas o texto ainda deveria ser pretensioso, para que os leitores do jornal, revista ou blog achassem estar consumindo alguma forma elaborada de literatura.

Como sou um homem de ação, senhoras e senhores, fui além do campo das idéias e tentei elaborar uma resposta à questão. Segue:

"Aprendi nos livros da escola que a água era o solvente universal. Tipo de conhecimento que te acompanha pela vida, arraigado e inquestionável. Como a gravidade. Mas será mesmo? Um solvente universal não deveria dissolver tudo? Ou, pelo menos, aquilo que precisaria de dissolução?

Ontem sobrou água em São Paulo, em uma daquelas tardes que ainda te deixa em pleno estado de assombro, estupefato pela onipotência da natureza. Fiel aos meus dogmas escolares, mais valiosos do que qualquer livro sagrado, aguardei pela completa decomposição das máculas paulistanas. A evaporação do efêmero golfo que tomou a cidade revelaria a dissolução completa da fome, do crime, da injustiça social, da falta de respeito ao próximo. Restava dormir.

Hoje, acordei para outro dia de imundície. Em poucos minutos de caminhada, tudo estava lá, intocado, composto: o mendigo, os motoristas fora de si, os carros importados, o lixo na rua, a desordem.

Não foi dessa vez. Nem a onipotente natureza conseguiu dar conta do recado. Apenas dissolveu o pouco de esperança que restava dentro de mim."

Sério, alguém tinha que me dar uma coluna.

7.2.07

pelé good; maradona better; george best


George Best não chegou às alturas de Cruyff, Maradona ou DiStefano. Compará-lo então a Pelé?!? Sacrilégio, claro!

O próprio Edson, entretanto, discorda. Duas vezes. Não apenas declarou que George Best era o melhor jogador que já tinha visto em sua vida, como também mandou uma bola com os dizeres "Do segundo melhor jogador do mundo" para Best, quando este estava em seu leito de morte.

Mas então porque seu nome não tem tamanha projeção fora do Reino Unido?

Primeiro: a seleção da Irlanda era terrível e ainda não tínhamos uma transmissão ostensiva dos jogos interclubes. Best é considerado o maior jogador do Manchester United de todos os tempos. A cada partida, o público sabia que estava presenciando o tipo de genialidade que é contada de pai para filho ou em livros de história. Pense na repercussão que isso geraria hoje, no maior time do mundo, com a internet e a difusão da Premier League e da Champions League. Seu appeal local é inquestionável - seu funeral, em 2005, levou 25.000 pessoas para o cemitério, e o aeroporto de Belfast tem o seu nome!

Segundo: sua carreira futebolística sempre esteve em segundo plano - existiam tantas coisas melhores para fazer! Ele foi expulso do Manchester United aos 27 anos, porque sempre estava bêbado e atrasado para os treinos. Ao invés de aprender com seus erros, continou sendo um fanfarrão por todos os clubes por onde passou, e pelo resto de sua vida, até o seu fígado entrar em colapso. E, mesmo assim, sempre era o melhor jogador em campo, na base do talento puro.

Nós, mortais, crescemos sob a doutrina da determinação, do esforço, da dedicação e do aperfeiçoamento como as únicas vias para o sucesso na vida. Por isso uma figura única como Best desperta um misto de admiração e revolta. Ele era um ingrato, que pouco fazia de seu talento tão especial, mas que ainda conseguia tudo o que queria - o dinheiro, a Miss Mundo, a adoração -, enquanto o resto da humanidade contrabalanceava sua mediocridade com muito suor.

Mas ninguém está apto a questionar a conduta de Best. Quem somos nós para fazer tal julgamento, quando não temos a mais remota idéia de como deve ser nascer e viver com esse tipo de dom?

Na condição de ignorante, o recomendável é menos revolta e mais admiração.

A postura debochada e inconsequente de Best, para mim, apenas um desdobramento natural de seu talento, ainda rendeu essa pérolas:

"I spent a lot of money on booze, birds and fast cars - the rest I just squandered."
"I used to go missing a lot...Miss Canada, Miss United Kingdom, Miss World..."
(On David Beckham) "He cannot kick with his left foot, he cannot head a ball, he cannot tackle and he doesn't score many goals. Apart from that he's alright."
"If I had been born ugly, you would never have heard of Pelé"
"In 1969 I gave up women and alcohol. It was the worst 20 minutes of my life."
"I've stopped drinking, but only while I'm asleep."
"I once said Gazza's IQ was less than his shirt number and he asked me: "What's an IQ?""
(On the blood transfusion after his liver transplant) "I was in for 10 hours and had 40 pints - beating my previous record by 20 minutes."
(Joking in a discussion on Sky Sports News) "All seater stadiums? The fans WON'T STAND for it!"

6.2.07

a conveniência em ser uma enguia

Partindo de uma discussão sobre shock art, comecei a pensar sobre pessoas que vivem da capacidade de chocar, dentro e fora do contexto artístico.

Conclusões? Nenhuma. Presunções? Um bocado.

Acho que o choque é o mecanismo mais rudimentar que temos para chamar a atenção de alguém. Quando gera espaço para diferentes interpretações ou relações com o objeto, até compreendo o seu papel na arte. Mas normalmente sua repercussão é homogênea - desconforto por desconforto - e sua fundação, mirra.

(Bem, talvez uma pedrada ou um tapa na cara sejam mais rudimentares...)

O diagnóstico fica pior quando a vontade de chocar permeia as ações mais corriqueiras do dia-a-dia de uma pessoa, sem desculpas artísticas. Sinceramente, não há forma mais fácil de conseguir ser notado ou deixar uma marca - o choque pouco exige pensamento, técnica, sortilégios. Basta fazer algo fora da curva, estranho, bizarro. A transgressão de premissas sagradas na sociedade corrente, o oposto do esperado.

**E em qual ponto o choque torna-se o esperado? Porque ele já ficou enfadonho para mim. O chocante será não tentar chocar ou causar polêmica, mas ser insípido, inodoro e incolor. Vou começar a ouvir somente muzak e vestir-me de Brick Tamland.**

Mas como você conseguiria tanta atenção, afinal? Não é brilhante, tampouco belo. Melhor recorrer aos seus recursos de fábrica. Como um peru que acena suas penas. Fazemos coisas para chocar nossos pais desde bebês. Foi a mais simples dedução que te ensinou sobre o poder de comoção do choro, do grito ou da autoflagelação. Perder tempo para quê? Estamos aqui para receber atenção, certo? Sejamos enguias, distribuindo choques quando próximos a outrem. Não temos penas majestosas ou presas afiadas. Não somos os melhores nadadores e nem conseguimos sair da água, muito menos voar. Sejamos enguias porque simplesmente é o que nos resta.

2.2.07

apesar dos pesares...

gostei bastante de Goodbye To The Mother And The Cove, do disco novo do Clap Your Hands Say Yeah.

bratwurst

O Senhor dos Anéis é um livro grande. Um cartapácio, deveras. Quantas são as páginas, uma mil e poucas?

O tal Tolkien devia ter muita história para contar mesmo - quase no nível de um assistente pessoal do Michael Jackson, após 25 anos de convivência com o artista do milênio, na Terra do Nunca. Não dá para deduzir outra coisa quando analisamos sua obra e vemos o festival de romances de duas resmas.

Mas a superfície de contador de história compulsivo, desesperado por vazão dos inúmeros contos que habitavam sua mente, não procede. Tolkien era um grande trapaceiro, enchedor profissional de bratwurst.

A evidência que tive: O Senhor dos Anéis. Não passa de longo, longo, longo e pretensioso livro de aventuras gastronômicas por vinículas francesas. Ruim, ainda por cima. O narrador arregimenta um sem-número de adjetivos esdrúxulos para descrever comida e paisagens, e deixa o enredo em segundo plano. A tal variedade de adjetivos não denota riqueza na narrativa - trata-se apenas de um recurso estético para descrever os mesmos seis atributos, sem repetir palavras. Isso para não falar do péssimo final que não acaba.

Poucas páginas bastaram para compreender que as montanhas eram imponentes, homéricas e altaneiras; o vento, gelado, cortante e impiedoso; as lembas, deliciosas, nutritivas e preciosas - o que vinha ao caso, já que, TODA MALDITA NOITE, os hobbits comiam porções ralas, escassas e miúdas, sem no entanto perderem as esperanças, pois sonhavam, TODA MALDITA NOITE, com mesas fartas, opulentas e nababescas, cheias de pratos saborosos, suculentos e deleitosos, descritos de forma barroca, rebuscada e pormenorizada.

Mil páginas do parágrafo acima alçaram O Senhor dos Anéis aos títulos de livro mais amado da Grã-Bretanha de todos os tempos e de um dos 100 melhores romances da língua inglesa dos últimos 84 anos. Nada mal para uma história que precisaria de 150 páginas, com detalhes.

Mas por que tamanha enrolação?

Para mim, Tolkien queria fazer volume e impressionar com o tamanho do livro, para que as pessoas acreditassem que se tratava de um épico.Bratwurst. Parece que deu certo.

E desde quando ser épico é uma virtude?!?

Triste pensar que o tempo dispendido nesse embuste de literatura gastronômica não volta mais. Pior então pensar que fui, masoquista, até o final, como uma mariposa que bate sua cabeça contra a lâmpada uma, duas, cem, mil vezes, até a morte anunciada.

24.1.07

casa de ferreiro, espeto de pau


Este sujeito pacato da foto é o lendário Yanni, grande luminar da música new age. Você deve conhecê-lo como autor de hinos das esperas telefônicas e salas de espera de dentista, estrela de videoclipes dignos de papel de parede de videokê e mensageiro da paz espiritual. Não dá para acreditar na existência de qualquer forma de tormento por trás dessa cara de picolé.

Pois bem, essa fotografia foi tirada em uma delegacia de Palm Beach, para a qual Yanni foi levado após bater em sua companheira. A história: uma discussão acalorada entre as partes degringolou de tal forma que o bigode resolveu chutar a mulher para fora da casa dele, literalmente.

Até aí, são coisas da vida - quantos são os casos de homens covardes açoitando suas mulheres? O que torna a história suculenta são os detalhes do acontecimento.

A moça, de fato, acatou a decisão de Yanni e pôs-se a enfiar suas coisas em uma mala. Isso, entretanto, não era suficiente para ele, que então bradou:

"Você é um lixo. Deveria levar suas coisas em um saco de lixo."

Uh! Um comentário deveras ofensivo e humilhante, mais do que adequado para mostrar à insolente quem é o chefe.

Mas Yanni não é um homem de palavras, e sim, de ações. Logo, pegou a mala da mulher, jogou suas coisas no chão e trouxe um saco de lixo, literalmente, para que ela fizesse sua mudança.

UH!

Moral da história: nunca arrume briga com um daqueles vendedores de flautinhas peruanas no centro. A casa VAI cair para o seu lado.

23.1.07

your world. sorry about that.



Achei genial essa página-sátira do Second Life.. O nome do jogo em questão é Get a First Life, inspirado pela clássica expressão em inglês, get a life, recado básico para gente sem ter coisa melhor para fazer.

Dentre os features oferecidos ao jogador, constam:
- A possibilidade de fornicar com os próprios genitais;
- A elaboração do visual do seu personagem "Get a First Life" utilizando as roupas do seu armário;
- Um sistema de busca para encontrar o local real onde você mora.

Tudo isso e muito mais, em um mundo 3D e sem lags!

Por isso que sempre exalto a eficiência da ironia como meio de passar uma mensagem. Ainda bem que existem mais pessoas tão incomodadas com o Second Life quanto eu, e bem mais capazes de darem um recado efetivamente.

gozado, no mínimo

"Pornography has long helped drive the adoption of new technology, from the printing press to the videocassette. Now pornographic movie studios are staying ahead of the curve by releasing high-definition DVDs.

But they have discovered that the technology is sometimes not so sexy. The high-definition format is accentuating imperfections in the actors — from a little extra cellulite on a leg to wrinkles around the eyes."


Leia o resto aqui.

O mais engraçado é o diretor cafa que atende pelo nome de Joone:

"Joone does not use a last name, but he does use a number of techniques to keep his films blemish- free. They include giving out lifestyle tips.

"I tell the girls to work out more, cut down on the carbs, hit the treadmill.""


Existe alguma diferença entre um cafetão e um diretor de filme pornô? Ambos usam anéis, bengala, chapéus com pena e sapatos brancos; ambos se envolvem com suas subordinadas e/ou com drogas; ambos exercem um criterioso controle de qualidade na performance da sua mercadoria - especialmente o diretor, sempre presente no quarto, piscina, banheira, barco ou praia onde a transação ocorre.

O que realmente distingue um diretor pornô de um cafetão é que o primeiro não bate em suas funcionárias, somente porque elas agora fazem parte de um sindicato.

17.1.07

essa foto tá massa

fernando vanucci fazendo escola

Paula Abdul: namoradinha dos EUA, jurada boazinha do American Idol, ex-cheerleader dos Dallas Cowboys e cantora de clássicos como Straight Up e Rush, Rush. Uma reputação na mídia que levou 25 anos para ser construída. E apenas 2 minutos para ir por ralo abaixo.



E o que seria um bafafá restrito à região de Seattle, tornou-se um fenômeno mundial de mídia. Tem coisas que só o YouTube faz para você.

Por sinal, não sei o que ela e o Vanucci tomaram para ficarem desse jeito, mas o negócio parece forte. Para chegar na manhã nesse estado, tem que ter muita pólvora nesse rojão.

16.1.07

desvio-padrão

você já viu esse filme antes












Alguém aí já viu The Burg? Havia lido sobre, mas nunca tinha parado para assisti-lo. Hoje, 5 meses depois, criei vergonha na cara e vi o primeiro episódio, The Cred. Achei bem bom.

Para quem não conhece, The Burg é um sitcom feito somente para a Internet, que retrata a vida de 5 amigos no bairro de Williamsburg, reduto trendsetter de NY e lar de gente indie, alternativa e muderna, com camisetas de brechó, gosto por bandas obscuras e constante preocupação com a opinião dos outros.

O episódio que vi é irônico até o fim e tira sarro do modus operandi dessa cena. Sim, a descrição soa clichê, mas o sitcom é especial porque é uma sátira apaixonada feita por gente que pertence à cena e ama tudo o que ela tem a oferecer, sem no entanto perder a capacidade de olhar no espelho e rir de si.

*Por sinal, minha admiração por pessoas capazes de tirar sarro de si próprias aumenta a cada dia, mas isso é conversa para outro momento.*

Como são estranhos os dias de hoje, não? Basta uma câmera, alguns amigos, um domínio e uma boa idéia para conseguir criar um fragmento de relevância cultural para alguém do outro lado do oceano - sem intermédio de grandes grupos de comunicação, presença de grandes marcas e casting de atores/modelos ou bandas major. Não importa quão nichada, barata ou extravagante seja a produção, sempre existirá alguém do outro disposto a apreciá-la.

Para mim, essa nova realidade não representa alguma mudança comportamental da audiência: a semente da excentricidade sempre esteve presente em nós. O fato é que ela nunca brotou devido à falta de escolha decorrente da mídia em massa.

Com a possibilidade de divulgação/transmissão de conteúdo na Internet, acho que as pessoas tornar-se-ão mais excêntricas. Poderão ver de tudo, quando quiserem, para então definirem as coisas específicas das quais gostam, e aprofundarem-se nelas. Dá até para enxergar o dia em que o excêntrico será o centro; a pessoa normal, a esquisita.

Dá para vislumbrar também o crescimento da cultura de turmas, tribos (argh) e cenas. O advento da oferta total de cultura na Internet ironicamente restringirá a cabeça das pessoas. Todos serão especialistas culturais, fanáticos por seus próprios nichos e sociáveis apenas àqueles com os quais compartilham gostos. Julgarão que conhecer outros assuntos ou pessoas será perda de tempo. Isso dá medo. Imagina lidar com uma sociedade ainda mais calcada em radicalismos, idéias fixas e irracionalidades? Cruzes.

15.1.07

música para os ouvidos

Sabe aqueles momentos de empolgação genuína ao ouvir uma banda nova e não acreditar nos próprios ouvidos? Por alguma razão, as pessoas costumam restringir essa sensação à adolescência.

Você já ouviu um dos inúmeros chavões associados à volatilidade emocional do jovem quando em contato com a música: movimento punk, teenage riot, teen angst, smells like teen spirit.. Mas quem disse que a vontade de gritar, a sensação de peito cheio e a vontade de pegar uma guitarra, quando despertados pela música, devem ser privilégios exclusivos de adolescentes cheios de espinhas? Música é música, ponto. Se você gosta dela, sua idade não mudará o seu entusiamo por ela...

Somente agora, jovem adulto que sou, olho para trás e vejo como minha relação com a música mudou profundamente com o passar dos anos. Os clichês do passado nunca soaram tão verdadeiros.

Aquela supracitada sensação despertada pela música? No passado, passava por ela semanalmente; hoje em dia, ouço tudo de forma tão cautelosa e crítica, que acabo perdendo a experiência emocional dessa primeira audição, capaz de deixar sua boca aberta, sua mente confusa, sua voz engasgada, desesperada por não ser suficiente para anunciar ao mundo a sua descoberta.

Bem, tive um momento adolescente nessa semana: sai completamente do eixo ao ouvir Foreign Born. Eles são uma banda da Califórnia, procedência um tanto surpreendente para o tipo de som que fazem: vocal e guitarras com reverb e outros efeitos, camadas de acordes e um pé firme no shoegazing.

Chama a atenção como o Foreign Born consegue partir de uma fórmula já batida para forjar um som infinitamente mais propulsivo, sem perder a beleza etérea peculiar dos nossos amigos olhadores de sapato.

Sabe quem fazia isso bem e deve ser influência em cheio da banda? O U2 de outrora, antes do Bono ficar com a cabeça gigante e complexo de messias. O dom para hinos é o mesmo, certamente, como dá para perceber nessa música, ó:

Foreign Born - It Grew on You. (clicar com o botão esquerdo)

E não é que a adolescência faz falta?