9.2.07

com essa chuva toda de ontem...

... fiquei a pensar: como seria a crônica mais babaca relacionada ao assunto?

O gancho seria estúpido, claro, mas o texto ainda deveria ser pretensioso, para que os leitores do jornal, revista ou blog achassem estar consumindo alguma forma elaborada de literatura.

Como sou um homem de ação, senhoras e senhores, fui além do campo das idéias e tentei elaborar uma resposta à questão. Segue:

"Aprendi nos livros da escola que a água era o solvente universal. Tipo de conhecimento que te acompanha pela vida, arraigado e inquestionável. Como a gravidade. Mas será mesmo? Um solvente universal não deveria dissolver tudo? Ou, pelo menos, aquilo que precisaria de dissolução?

Ontem sobrou água em São Paulo, em uma daquelas tardes que ainda te deixa em pleno estado de assombro, estupefato pela onipotência da natureza. Fiel aos meus dogmas escolares, mais valiosos do que qualquer livro sagrado, aguardei pela completa decomposição das máculas paulistanas. A evaporação do efêmero golfo que tomou a cidade revelaria a dissolução completa da fome, do crime, da injustiça social, da falta de respeito ao próximo. Restava dormir.

Hoje, acordei para outro dia de imundície. Em poucos minutos de caminhada, tudo estava lá, intocado, composto: o mendigo, os motoristas fora de si, os carros importados, o lixo na rua, a desordem.

Não foi dessa vez. Nem a onipotente natureza conseguiu dar conta do recado. Apenas dissolveu o pouco de esperança que restava dentro de mim."

Sério, alguém tinha que me dar uma coluna.

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