14.2.07

zeitgeist

Nesse último domingo, vi uma boa parte do Fantástico. Os destaques foram os seguintes:

1) Um bloco de longos minutos consistiu em levar o garoto atacado pela sucuri (e seu avô) para o Instituto Butantã. Esse foi o gancho mais ridículo que já vi para uma matéria. Foi hilário ver o cara do instituto explicando para os dois que a sucuri não se alimenta de humanos, mas que aquela especificamente tinha atacado o moleque porque estava com fome (?!?)

2) Contaram aquela história incrível da astronauta traída, mas acharam que o foco da matéria deveria ser o seguinte:

"É claro que essa história traz uma pergunta à mente de todos: dá para fazer sexo no espaço?"

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

O pior é que ainda colocaram o Marcos Pontes para responder à pergunta.

3) Uma matéria seguinte a uma entrevista com a mãe do João Hélio, que basicamente tentou culpar a elite - que sempre ignora os mais necessitados - pela animalidade dos assassinos. Falar que a injustiça social é o comburente do círculo vicioso do crime é bom senso; usar esse argumento para redimir o indivíduo pela crueldade de sua ação, como se ele não possuísse qualquer tipo de julgamento ou fosse um ladrão de padaria, é absurdo. Quase chutei a TV.

Essas são as manchetes da minha revista eletrônica semanal. Retrato claro do que interessa o brasileiro comum, corpo parasita da Rede Globo.

Quando vou procurar entender o que interessa uma audiência supostamente mais "qualificada", com acesso a internet e interesse diário em notícias - os leitores da Folha Online -, vejo entre as 5 notícias mais lidas do site uma coluna zapping, um crime digno de Notícias Populares e algo referente ao escândalo da semana na internet. Sempre.

Não noto distanciamento entre os dois públicos. Todos querem o factual. Assim fica mais fácil para começar uma conversa no bebedouro do trabalho.

Cada um tem seus gostos: música, filmes, religião, etc. Os fatos, entretanto, são compartilhados por todos - nosso mundo, por incrível que pareça, é um só. A utópica pauta comum, universal, capaz de suplantar crenças, valores e etnias, é muito mais simples do que argumentos mirabolantes de livros de auto-ajuda voltados à socialização.

Já que cansei de parecer um lunático, vou sempre soltar um "E o Lula, hein?" em meio a uma roda de pessoas e ver a mágica acontecer. Iniciarei a argumentação e depois balbuciarei palavras que jamais me derrubem de cima do muro. Sem polemizar ou me comprometer pela minha ignorância e total ausência de senso crítico, serei amigo de todos. Não é isso que todo mundo quer?

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