13.12.06

complexo de viralata

Jens Lekman teve noite de Morrissey aqui em São Paulo. Fila antes da hora da entrada, capa do Caderno 2, adoração irrestrita de gente que nunca ouviu falar do sujeito.

Não tinha idéia da comoção que esse show causaria. E aposto que ele também não. Mas sei que a grife Suécia vende bem.

Existe um glamour acerca da Escandinávia e um senso implícito de inferioridade nossa ante os caras. Como países tão pequenos podem ter tantos artistas relevantes, tantas histórias para contar e tantas empresas bem-sucedidas mundialmente?

O sr. Lekman é bom, muito bom mesmo. Mas não acho que o fenômeno de ontem tenha decorrido de seu mérito artístico. Faltava senso crítico na platéia, sobrava idolatria.

11.12.06

a ironia morreu na chopperia liberdade

Na minha cabeça, a ironia precisa ter algum fundamento, não deve existir por si só. Ela precisa de um objetivo para ser empregada: um "larga de ser estúpido", um "notem o absurdo dessa situação" ou um "só vocês três precisam entender isso".

Isso, entretanto, é conversa para outro momento.

Hoje, friso a definição central da ironia. Para mim, irônicas são as palavras ou ações das quais o sentido figurado é completamente oposto ao sentido próprio. Quando o primeiro não é oposto ao último, não há ironia, mas apenas uma constatação da realidade.

Não há um pingo de ironia nos indies que cantam sertanejo ou pagode na Chopperia Liberdade, para depois falarem mal ou agirem com preconceito ante outros gêneros. Não há um pingo de ironia em tocar Guns n' Roses na pista, porque "é engraçado" - talvez tenha sido, por 2 segundos, 5 anos atrás. Não há um pingo de ironia em fazer uma produção visual elaborada, com maquiagem, cabelo, roupas e acessórios mil, para depois criticar mauricinhos.

O que há é vergonha. Ponto. Normalmente, coletiva. No fundo, todos gostam das mesmas coisas vergonhosas - as músicas bregas, o visual de produção meticulosa, todas aquelas coisas tão fáceis de serem criticadas -, mas escondem-se atrás da ironia, em um grande acordo tácito de negação.

Meu alerta de tema recorrente (mas coerente) está apitando, mas, novamente, como vivemos de acordo com a aprovação alheia, não? De onde vem tamanha dificuldade em assumir o que somos? De onde vem tamanha capacidade de conviver com paranóia e fingimento para vendermos um gosto fictício que agrada os nossos amigos? Por isso, a ironia é uma fuga fácil, rápida e indolor. Podemos baixar a guarda e sermos um pouco do que realmente somos.

10.12.06

o que aprendi hoje

Amazon.com delivers to penitentiaries, but we strongly suggest you contact the prison first to confirm that they accept deliveries and to note any special regulations the prison might have. Some prisons don't allow delivery of hardcover books. Others place a limit on the number of items contained in a package.

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7.12.06

touché

"It's hard to tell who's the asshole here, but my vote's usually for any guy who calls himself Bono Vox."

look who's got a website

Não gosto do Ryan Adams, mas sou obrigado a assumir que o homem é um gênio.

Liguem as caixas de som e visitem a seção da rádio - o ócio criativo acaba de ser redefinido.

6.12.06

fuém fuém

2007 reserva uma série de lançamentos musicais de peso. Da primeira fornada, já é possível ouvir o novo disco do Bloc Party, devidamente vazado por toda a internet, com 5 meses de antecedência (isso TEM que ser um recorde - existe alguém registrando esse tipo de estatística?).

Então...
Hmmmm...
É impressão somente minha ou o disco é bem fraquinho, hein?

Sua segunda metade, especialmente, é anêmica. Tempo vagaroso, elementos eletrônicos de mau gosto e vocal mais soul, sempre com 3 minutos iniciais que chegam a lugar nenhum. Maturidade, my ass.

Sorte que ainda são muitos os lançamentos do ano. Eles tirarão esse gosto amargo da minha boca. Não acredito em presságios, somente em fatos.

Fato: sei que, do outro lado do Atlântico, a voz mais esganiçada do show business está prestes a irritar ainda mais gente. Quem foi aos shows recentes do Crap Your Hands Say Yeah, disse que as músicas novas são fabulosas.

Não tem erro. Agora, é esperar para ouvir o tal Some Loud Thunder.

Nota do editor:
- PSIU!!! Você já ouviu várias músicas novas do Clap Your Hands Say Yeah.
- Sério? Não me lembro disso. Foram tão insignificantes assim?
- Não sei se "insignificantes" seria um bom adjetivo. Mais para ruins mesmo. Mas aposto que muita gente gostará da forma como eles abraçaram o folk e rejeitaram a estética rock.
- As pessoas adoram qualquer coisa sob o rótulo folk. Senso crítico, be damned.

4.12.06

don't bore us - get to the chorus!

Gosto de pensar sobre como foi o processo de composição e gravação de alguns dos meus discos favoritos. Loveless, Daydream Nation, Crooked Rain, Crooked Rain... Grandes álbuns, prováveis grandes histórias.

O que há por trás de toda essa genialidade enclausurada em plástico? Quem foi decisivo no rumo que cada música tomou? De onde veio a inspiração para a composição das faixas? Quem deu mais chiliques? Quem Kubrickou, peitou a gravadora e exigiu o final cut do disco?

A idéia de ter esse conhecimento, entretanto, torna-se muito mais atraente quando penso sobre discos nem tão geniais assim.

O pop deslavado, formuláico e radiofônico deve saber rir de si próprio. Tenho o mais absoluto respeito por artistas cientes disso. Eles são poucos, ante os muitos que tratam sua música como obra-de-arte e discutem conteúdo e significado, para depois tirarem fotos sexy(ies), cheias de caras e bocas, para o encarte do CD, a revista de fofoca, o perfil do myspace.

Você já viu essa história antes: boybands dizem que amadureceram, cantoras teen juram que ajudaram na composição de suas novas músicas e bandas de pop-rock citam influências nebulosas para um novo disco, idêntico ao anterior.

Acompanhar a comédia não-intencional dessa gente se levando a sério seria puro ouro televisivo - imaginem um programa que exibisse um sujeito pretensioso como o Lenny Kravitz, compondo e defendendo ideologicamente Fly Away. Vocês sabem, aquela música cujo refrão pontua:

"I want to get away
I wanna fly away
Yeah
Yeah
Yeah

I want to get away
I wanna fly away
Yeah
Yeah
Yeah
Oh yeah"

Um documentário disso, comandado por um entrevistador bem cínico, seria mágico. Imaginem as possibilidades:

Entrevistador: "Ah, essa música é sobre o eterno desejo humano por fuga, né, Lenny?"
Lenny: "Sim, claro, essa vida é muito dura e, às vezes, sentimos vontade de esquecer os problemas e mandar tudo pelos ares."
Entrevistador: "Por isso que você se droga tanto."
(silêncio constrangedor)

28.11.06

porque não compro um carro

1) O tráfego está ótimo. Apesar da melhoria ser visível a olhos nus, gostaria de apresentar um índice empírico: às vezes, pego táxi para ir ao trabalho. Nesse semestre, sem reajuste na tarifa-padrão, houve um aumento de 28,6% no quanto eu gasto por viagem.

Como reclamam que faltam vagas? Nunca vi tanto carro parado!

2) Por sinal, quando você acha uma vaga, é hora de achar alguém vendendo talão de zona azul.

3) Quando você o acha, pode tratar de pagar o simpático ágio de 67%, pelo incrível privilégio de ficar estacionado por uma hora, em uma rua pública.

4) Quando acaba o período da zona azul, começa a extorsão nossa de cada dia. Pague o flanelinha para não riscar seu carro. O preço pode flutuar até 15 reais, pois alguns são mais qualificados do que os outros. É óbvio que você deve pagar um premium pela formação do sujeito.

5) Alternativa? Procure ajuda profissional na díficil tarefa de vigiar seu carro e pague por um estacionamento. Você desembolsará mais por isso, claro, pois o dono desse fino estabelecimento precisa dividir o bolo com os flanelinhas, para garantir que eles riscarão/roubarão os carros que estiverem nas redondezas.

6) Tudo bem, entretanto, pois sobra dinheiro com o combustível tão barato. Ainda bem que progredimos tanto na busca por combustíveis baratos e limpos para automóveis. Fico até perdido na inovação - a gasolina está aí há quanto tempo? 130 anos?

7) Fora que sobra combustível quando você é proibido por lei a usar seu carro de 25 mil reais + impostos + seguros por 52 dias do ano. Você não quer gastá-lo tão rápido, né?

8) Afinal, carros são muito resistentes e duráveis, e somente quebram a cada semestre devido ao nosso uso exagerado deles. Imagina o trabalho que damos para as montadoras, que precisam ligar as máquinas para fabricar as peças das quais nós, esbanjões, necessitamos para fazer o carro de 25 mil reais + impostos + seguro funcionar. É muita consideração.

24.11.06

dead on arrival

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Vi uma ambulância na Santo Amaro com a placa DIE. Juro.
O espaço acima seria da foto que tiraria dela, caso tivesse o celular em mãos.

E as pessoas acham que EU tenho má-vontade.

23.11.06

adoro resenhas de rodapé

Livro: Cultura Livre - Como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade

Trecho da página 195:

"...A idéia atrás dessa alternativa foi se basear nas preferências musicais reveladas pelos ouvintes, para então recomendar novos artistas. Se você gosta de Lyle Lovett, provavelmente irá gostar de Bonnie Rait*..."

RODAPÉ__________________________________
"* Cantora e compositora americana, famosa por sua técnica de slide guitar"

22.11.06

reverberação

Como algo banal como a morte - quase um simples desligamento de uma máquina -, pode ter uma amplitude tão desmedida? A incongruência entre o físico e o mental choca.

A cada falecimento, um calhamaço de memórias, conceitos, opiniões formadas e conhecimento próprio ou adquirido desintegra-se, pura e simplesmente.

Morre também um pedaço do futuro: deixam de existir todos os fatos, ações e reações vindouros dessa pessoa, caso ainda estivesse viva, mais toda a repercussão destes, direta e indireta, em um sem número de pessoas.

E o que é tirado dos outros? Amigos próximos, colegas de trabalho, familiares e até cachorros... Todos possuíam relações com essa pessoa, próximas ou distantes, cujas nuances acabam por virar feridas abertas - quanta coisa a ser dita, quantos planos a cumprir, quantos favores a cobrar, quantas dívidas ainda por saldar.

Perdem-se as reações de cada um à mera existência do falecido ainda vivo: milhares admiravam-no; milhões o odiavam; alguns suavam frio ao seu lado; outros, falavam mal à sua ausência. Fragmentos comportamentais que desaparecerão do repertório de cada um, por mera questão de desuso.

Esse simples fechar dos olhos reverbera sem as justas proporções pelas quais esperamos na vida. Queremos coerência, lógica, controle sobre nossas vidas, ação e reação. Mas a única coisa certa que temos, a morte, torna nossa existência tênue, frágil, mirrada. Como procurar algum sentido nessa maluquice toda cujo fim reservado é tão abrupto?

17.11.06

porque marketeiros são superestimados

Fila do show do New Order, 13 de novembro:

1) Passa um cara vendendo Halls e exclamando "Quem aqui vai beijar na boca?!?";

2) Do outro lado, um sujeito brada:
"A cerveja lá dentro custa 7 reais. É um absurdo! Compra a sua aqui, geladinha, por 3! Não deixa eles meterem a faca!".
Detalhe: a cerveja custa 5 reais no Via Funchal;

3) Perto da derradeira entrada, avisto um sujeito vendendo camisetas do New Order. Sua banquinha era um varal improvisado, suspenso entre dois postes;

4) Que isopor, que nada! Alguém viu aqueles carrinhos de bebida feitos sob medida, com 12 buracos específicos para as respectivas garrafas dos mais diversos tipos de booze (Smirnoff em todos os seus sabores, gin, tequila!), já com os devidos copos de plástico no topo, de acordo com o tipo de dose? Aposto que esses caras fariam um papelão menor com a nossa pasta de ciência e tecnologia.

16.11.06

produtos que eu compraria

Bar de balada é sempre caro. A turma mete a faca mesmo, sem dó, e ainda não permite a entrada de vasilhames com bebida de fora.

Então por que ainda não lançaram algum tipo de vodka em pó? Poderia se chamar PODKA (sutil o trocadilho)! Em práticos saquinhos falsos de sal de frutas, a vodka desidratada entraria sem problemas na festa. Aí, bastaria apenas misturar o pó com água comprada no bar para embarcar em uma viagem alucinatória para a mãe Rússia.

Aliás, se chegamos ao fundo do poço desse jeito, por que não abraçar o capeta? Misturemos o pó com água da torneira mesmo. Vodka de macho mata bactéria de tão alcoólica - cura até dor de garganta.

12.11.06

metalinguagem

Que piada ver esse monte de agências comprando mídia para obter votos no ridículo Prêmio Caboré. Pior ainda ver profissionais de respeito mandando e-mails para a sua caixa postal (você sabe, o tal do spam), pedindo encarecidamente a sua contribuição eleitoral.

Você sabe que está em uma enrascada quando sua atividade profissional vira uma finalidade em si mesma. Fazer comerciais com o propósito de ganhar prêmios, fazer um projeto para bater de frente com o de uma agência concorrente, fazer uma ação com marionetes porque, sei lá, você tem uma estranha obsessão por eles.

Dane-se o briefing, dane-se os clientes, dane-se o único maldito motivo da existência pífia do seu trabalho que é "VENDER MAIS". Você quer o status, os holofotes, o controle, a autoridade, a boquinha, para você e mais ninguém. EGO, EGO, EGO...

O engraçado é notar como é possível conseguir qualquer coisa no mundo manipulando o ego das pessoas. Felizes são aqueles com a clareza de pensamento e praxis para usarem essa premissa em proveito próprio.

O pior é que luto para não mais ser tão crítico dessas pessoas, pois os dedos devem ser apontados para aqueles que estabelecem as regras e permitem tal exploração. O primeiro grupo está é certo, pois joga de acordo com o tabuleiro. Don't hate the player, hate the game.

Não podemos falar de meritocracia, sem a constatação da relatividade do mérito em si. Em nossa sociedade, puxar um saco aqui ou mostrar um peitinho ali são atitudes dignas de mérito.

Por que sofro em assumir essa realidade? Talvez seja uma negação para conseguir lidar com minha inaptidão para sobreviver nesse meio. Sinto-me lutando, sem fôlego e propósito, contra a inexorável extinção da minha espécie... E sem um ecochato para lutar por mim.

1.11.06

the begging crashers

Eu sei que álcool gratuito é sensacional, ainda mais champagne, mas fico chocado com o tipo de humilhação pela qual as pessoas passam para receberem um convite ou entrarem em uma festa com boca livre.

Não tomo álcool pelo gosto. Tomo pelo seu efeito mesmo. Gosto por gosto, prefiro um suquinho. De acerola, provavelmente.

Para chegar ao efeito desejado do álcool, não é necessário gastar muito. Vodka dá conta do recado, por um preço bem justo. Não precisa ser Absolut. Basta não intoxicar.

Por que tanto esforço então? Busca pelo privilégio como auto-afirmação?

"Nossa, estou bebendo de graça, em uma festa exclusiva... Até que não sou tão loser assim".

Claro, os anos de politicagem, a média com as PRs da cidade, a ligação coincidente à data do evento para alguém da organização e os inúmeros "pô, pensei que fossemos amigos" são os típicos vestígios de uma pessoa vitoriosa na vida.

11.10.06

a grama do vizinho é sempre mais verde

Curioso notar como ditados contam sobre a essência de um povo. Para um estabelecer-se em uma sociedade, certamente é porque foi usado e apropriado por um sem-número de vezes, graças à relevância de seus significado e poder de síntese. De fato, existia um desejo coletivo por comunicar a mensagem.

Se pararmos para pensar, é difícil imaginar um índice tão preciso, espontâneo e sem vícios para qualificar as características de um povo.

O melhor exemplo que conheço é o dos americanos. O tão falado "american way of life", de fato, é falado em pérolas como:

"No guts, no glory";
"Don't talk the talk, unless you can walk the walk";
"Actions do speak louder than words";
"Don't ask the question, unless you really want to know to truth";
"If you're going to do it, do it well";
"Anything is possible";
"Success is the easy way out"...

... E essas são somente lembranças superficiais minhas.

Claro, soam babacas para nós, brasileiros, mas admito meu respeito por uma cultura que legitimamente prega isso. São criações e, especialmente, reproduções genuinamente geradas pelo povo.

O americano comum possui uma postura distinta à do brasileiro comum. Os caras soltam um "God Bless America" com a boca cheia; quando ouço frase análoga referindo-se ao Brasil, o ponteiro do meu cinismo carimba o talo.

Sou eu quem estou errado ou é a história de nosso povo/país que justifica tal comportamento?

2.10.06

coisas para fazer em um supermercado quando acometido pelo tédio, vol. 2










não é à toa que todo mundo fica doente












pleonasmo












paradoxo












pretensão












sabia que conhecia esse plástico de algum lugar












para ter as 7 barbas, o camarão teria 7 cabeças, certo? Eeeew

28.9.06

epifania da semana

Quem se lembra do Bolinha? Tenho vagas memórias do homem e do seu programa, mas aquela música da abertura nunca saiu da minha cabeça:

"Bolinha, Bolinha, está na hora de você entrar na linha...".

Sempre achei que essa imposição, "está na hora de você entrar na linha", fosse direcionada ao telespectador - "Assista o Bolinha para entrar na linha".

Pois bem, foram 15 anos para eu me tocar de que a música era um recado para o próprio Bolinha. Aquele coro indefinido de mulheres - quase um grito de guerra do gênero feminino como um todo -, pedia encarecidamente para o incorrigível apresentador tomar jeito e parar com suas canastrices.

Se fosse ele, daria uma resposta mal-criada para essa mulherada sedenta pela mudança da minha essência. Uma sugestão de bom tom:

"Bolinhas, bolinhas, está na hora de vocês lamberem as minhas".

IN YO FACE, 'HOS!

Entendo sua dor, Bolinha. As mulheres sempre querem suprimir nossos instintos primordiais. Basta. Expectativas somente levarão a uma decepção inexorável. Um tigre não muda suas listras, baby.

25.9.06

histórias da minha vida, nas palavras de outrem, vol. 2

I'm From Barcelona - Oversleeping

Damn! Oversleeping again
Damn! I can't believe I did it once again

I can make it in time
if I jump out of bed
if I skip to wear clothes
and get running instead
if I get on my feet
if I skip to hit snooze
if I don't care to eat
and get running instead
I can make it in time

Been oversleeping on Monday
I don't care let's pretend that it's Sunday

22.9.06

histórias da minha vida, nas palavras de outrem, vol. 1

Nossa, o Hélio Schwartsman transcreveu um discurso meu antigo, praticamente ipsis literis. Já devo ter falado algo na linha desse trecho abaixo umas 60 vezes (não, não é uma hipérbole).

Bom saber que não sou o único chato de plantão.


"Na maioria de seus discursos, Bento 16 se bate contra o relativismo e o ateísmo, que aponta como os maiores males a afligir o Ocidente. De novo, discrepo com veemência. Aliás, em minha santa ignorância, acho que um pouquinho de relativismo é fundamental para interpretar o mundo de forma coerente. Se apenas uma religião é a verdadeira, algo como 5/6 da humanidade está condenada à danação eterna. Faz sentido alguém perder direito ao jardim das delícias apenas porque nasceu em algum rincão do globo onde a "verdade verdadeira" ainda não chegou? Nenhum personagem de romance hebraico seria tão cruel. Acho mais razoável compreender todas os sistemas de crenças como manifestações diferentes de uma mesma predisposição humana, que pode ter base biológica (como acredito) ou divina (como crê a maioria). (Felizmente, não estamos aqui numa democracia, de modo que não preciso acatar a "decisão" do grupo majoritário)."

Aproveitem para ler a coluna inteira.

20.9.06

motomichê

Motomix em pílulas:

Annie é coxuda.

O show do Art Brut foi ainda melhor do que esperava. Muito engraçado, e bem mais barulhento do que o disco.

Franz Ferdinand foi espetacular. Último show de turnê sempre apavora. Tudo está tão engrenado que fica muito mais fácil improvisar e divertir-se. Os caras realmente estavam comemorando o final de uma turnê que rendeu MUITO dinheiro a eles.

Radio 4 foi bem legal também. Pena que o povo estava baleado.

Em relação ao domingo, Isolée foi incrível. Fino, sofisticado, minucioso, minimalista. E o Peter Hook é o DJ mais farofeiro da história. Cafa até o último botão de sua camisa aberta e dono dos passinhos mais ridículos já realizados em uma pickup.

Uma amostra da já imortalizada dança do coicinho (ou escorpião, se preferir) do sr. Hook:

19.9.06

fundo do poço

"Em maio, o Ibope dava 50 pontos de diferença entre os dois: 58% para Sarney e 8% para Cristina. No final de agosto, o Ibope já dava 29% a ela e 50% a Sarney. Cristina --que disputa pela primeira vez uma eleição-- tem agora 40%, contra 47% do atual senador.

Sob risco, Sarney, que cogitou, aos 76 anos, não fazer uma campanha intensa --tem dois mandatos de oito anos como senador do Amapá--, já visitou todos os 16 municípios do Estado. No corpo-a-corpo, tenta colar sua imagem à população de baixa renda, seu principal eleitorado. Segundo o Ibope, Sarney lidera entre os menos instruídos (até a 8ª série) e os mais pobres (até dois salários mínimos). Cristina está na frente na faixa dos que ganham mais de dois salários mínimos e dos que possuem ao menos o ensino médio completo.

Cristina é militante do movimento negro e participa ativamente das festividades populares tradicionais. É dançarina do grupo de marabaixo --uma manifestação com raiz africana-- da comunidade de Campina Grande. Para igualar a disputa, Sarney também dançou o marabaixo no horário eleitoral da TV."

18.9.06

popular culture no longer applies to me

For quite a while, as a matter of fact. But it just keeps getting worse.

Fora a presença perene do Zapping no top 5 da Folha Online. Todo santo dia.

Difícil não sentir-se deslocado em conversas de bebedouro, quando são esses os filmes e assuntos relevantes.

15.9.06

reflexão

Someone once said modern art is what happened when people stopped looking at naked women and thought they had a better idea, and I’ve never had a better idea.

14.9.06

coisas para fazer em um supermercado quando acometido pelo tédio, vol. 1

1) Compor a música mais farofa dos anos 80;
2) Batizar a banda fictícia que a toca de "RENEGADO" (assim, ó);
3) Gravar a pérola ao chegar em casa.

Baixem essa linda canção, toquem-na bem alto nas sofríveis caixas de som que vieram com seu computador e cantem juntos, com seus isqueiros lá no alto (também aceito palmas, especialmente na última parte da música).

Renegado - Can't Find Place to Runaway

You know you like to deny me
Feels like i got no reason
Sometimes i want to desert you
But that would be treason

This room is getting smaller
Got no one else to follow
I'm lost and i am cold
I should have been told

My life is at stake
It sure was a mistake
Forsaken, I resign
Before i lose my mind

[REFRÃO]
Can't find place to runaway
Can't find place to runaway
Can't find place to runaway
Can't find place to runaway

And you know
You keep on closing the doors
I just hit the bottom
Can't fall away no more

[REFRÃO]
Can't find place to runaway
Can't find place to runaway
Can't find place to runaway
Can't find place to runaway

11.9.06

heart of snow

Brasileiro gosta de calor porque é preguiçoso e quer desculpas para fazer nada e beber a birita sob plena luz do dia.

Frio = progresso.

Não é só questão de ficar mais disposto a trabalhar em meio a uma friaca: nada mais lhe resta a fazer. Talvez suicídio, como constatado na Escandinávia, mas um infeliz se matando por cada batalhão motivado na labuta é uma barganha.

Está frio? Agasalhe-se até a alma e pronto. Está calor? Pode ficar pelado que não adiantará. Só uma piscina resolve. Você tem uma no seu escritório, por acaso?

8.9.06

feriado em SP

ruas nem tão cheias
ameaça constante de convocações arbitrárias para a labuta
tempo com os cachorros
organização de contas mil, quarto, cds
menos a fazer do que o devido
suposto descanso

25.8.06

death and taxes

Impostos são necessários, mas irritantes, especialmente devido à falta de accountability de nossos coleguinhas do showmício. Duro é pagar um tarifa de importação sem fundamento e arbitrária - mas não se enganem, sempre alta - ao comprar CDs do exterior.

Quem compra CDs originais hoje em dia? Eu, com iPod, computador, banda larga e CD-R, poderia estar a uma perna-de-pau de ser pirata de marca maior, mas escolho comprá-los quando possível. As loucuras cometidas com os preços dos CDs nacionais são dignas de muita discussão (por sinal, não acho que justificam a pirataria), mas seriam bem-vindas à minha realidade - adoraria poder reclamar dos preços, se ao menos conseguisse encontrar aqui os malditos CDs das bandas queridas do meu coração.

Nada me resta, exceto comprar as edições internacionais, únicas disponíveis, por algum site de e-commerce. As intenções são nobres, juro: quero que o artista receba dinheiro por seu trabalho; quero saber quem tem sua gratidão; quero ouvir sua música na mais alta qualidade; e, especialmente, quero ter mementos da produção cultural que tanto sentido fez a cada instante da minha vida.

Ao comprar um CD pela Amazon, pago o mark-up da loja, os impostos do produto, o envio do mesmo ao Brasil e os impostos desse envio. Qual é o sentido de pagar uma tarifa de importação de 60% sobre um valor muitas vezes presumido sem o menor critério pela Receita? Isso quando os próprios Correios não tentam embutir uma taxa sobre a entrega...

Esse CD foi produzido no exterior. Não havia alternativas no mercado nacional. De fato, jamais compraria um CD nacional de outra banda em detrimento do importado. Ninguém aqui do mercado fonográfico deixou de faturar - somente o sujeito da balada na qual eu encheria a cara com o dinheiro. Acho que ele abriria mão desse montante para escapar da encheção de saco causada por mim, entretanto.

Assumindo que o protecionismo não faz sentido nessa situação, por que não são cobrados somente os impostos decorrentes da circulação dessa receita em nossa economia? Sim, o dinheiro que gastei na compra desse CD importado deixou de circular aqui e gerar impostos, mas jamais renderia os gordos 60% tarifados na importação (que incidem também no frete!).

Conta de padeiro

Para facilitar o exercício, vamos assumir que todo esse montante seria gasto com CDs nacionais - a receita total gerada por toda a produção e comercialização de um CD equivaleria a aproximadamente 30% do preço de sua venda, de acordo com Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDI). Absurdo, de acordo com os padrões do exterior, mas uma dádiva ante o atual cenário.

AGORA
4 CDs de US$10 = US$40
Taxa de frete = US$10
Taxa de importação = US$30
TOTAL = US$80 / US$20 por CD / R$42,60 por CD

SUGESTÃO
4 CDs de US$10 = US$40
Taxa de frete = US$10
Taxa de importação = US$15
TOTAL = US$65 / US$16,25 por CD / R$34,60 por CD

O pior é pensar que estamos falando de música, e de que essa verdadeira extorsão priva-nos o acesso a um bem cultural. Enquanto isso, é permitida à CIE a captação incentivada de R$9,4 milhões para a tour do Cirque du Soleil, espetáculo cujo ticket médio supera R$250, ao Brasil. Realmente, todos crescemos culturalmente com a vinda dessa pasmaceira digna de Hans Donner. Imagino a fúria de quem vive do teatro e do circo no Brasil.

23.8.06

enquanto isso, na Polícia Federal...

Renovar o passaporte a cada cinco anos é fogo, hein? Sinto como se tivessem revogado a minha cidadania e que para reavê-la, precisasse pagar, CARO!

Mas amanhã será o pior dia: 215 reais + 38 reais para ser julgado e humilhado na tensa, traumática e derradeira entrevista de renovação do meu visto americano. Juro que chamo o PROCON se aprontarem para cima de mim.

P.S. - Foi ridiculamente fácil. O sujeito da entrevista me fez uma pergunta e disse "Boa viagem" no final. Tentarei ser menos dramático daqui em diante.

...

Sempre penso sobre as pessoas indefinidas que criaram as coisas mais óbvias e elementares para nós. Enquanto vangloriamos os grandes inventores, onde está o sujeito que primeiro transformou claras em neve ou vislumbrou as três cores e funções do semáforo?

A coisa fica mais crítica quando penso em nossa língua - surge uma dúvida por minuto na minha cabeça. Por ora, gostaria de conversar com a turma responsável pela pontuação. Acho estranho terem chegado a apenas uma solução "emotiva" na língua formal escrita, o ponto de exclamação (!) - interjeições aside.

Onde fica o meu amado sarcasmo? Relegado aos pontos de interrogação (?) que acompanham perguntas retóricas? A tristeza? A sensualidade? E a perplexidade, alguém?

Até mesmo a raiva fica indefinida ao vermos que o "!" serve para tapar buracos na hora de transmitir admiração, surpresa, assertividade, entusiamo... E ainda há quem critique o coitado.

Ingratos!

O surgimento e a popularidade dos emoticons não são modismos, mas necessidades. Suplantam a carência de nossa sisuda língua, de forma legítima e prática. Por mim, deveríamos adotá-los oficialmente.

A solução já está pronta, nem precisaremos de novos teclados. Bastará criar cadernos de caligrafia para carinhas e bocas, e ensiná-los nas escolas - não que as crianças não conheçam emoticons, mas alguém precisará avisá-las de que agora poderão usá-los em suas redações ;-)

20.8.06

ceteris paribus

Precisamos mesmo de receitas de bolo para um relacionamento bem-sucedido? E TODA MALDITA SEMANA? Quantos são os best-sellers e programas de TV feitos por gente de suposta credibilidade e definitivo poder de influência tratando seres humanos como gado, e seus conflitos, inseguranças, estigmas e expectativas como meros instintos?

Como aplicar prescrições universais em criaturas tão tinhosas, complicadas, confusas e instáveis como nós? Um problema crônico de desentendimento entre um casal, decorrente de 85.000 variáveis para cada lado, altamente interinfluenciáveis e possivelmente modificadas nas últimas 48 horas, é tratado como se fosse uma crise de fome.

EXEMPLO DE UM CASAL COM PROBLEMAS

Problema: O homem sente ciúme de sua mulher
Diagnóstico óbvio de uma variável: o homem é inseguro porque sua mulher está bancando as contas da casa.
Prescrição única e unilateral: basta deixá-lo fazer coisas de homem - consertar a pia, matar o rato e bater em você -, para dissipar suas dúvidas sobre a própria masculinidade. Em um piscar de olhos, ele voltará a ser aquele príncipe cortês dos 3 primeiros anos de relacionamento!

A ingenuidade de quem consome toda essa balela é a mentira que abriga sua mediocridade: "Ah, comprei o livro e fiz minha parte, pois deixei claro que quero melhorar. Refletir sobre o problema? Para quê? Alguém já o fez para mim e expôs a solução em 4 palavras iniciadas pela letra "D"!".

small talk

Ainda não compreendo o que separa aquele cuja renda anual supera os 7 dígitos e o gerente eterno, e o tal Aprendiz definitivamente não elucidará o ponto em questão.

O Robertão apontou, em tom sério, a recém-constatada sorte de um sujeito como uma das principais características de uma carreira profissional de sucesso. Na minha percepção, a cabeça de uma pessoa bem-sucedida não pode crer que a sorte é uma virtude necessária. Anos e anos de cursos, livros e seminários sobre processo decisório, competências, liderança e dedicação para dar uma grande banana à meritocracia que fundamenta o mundo dos negócios?

O Justus entregou-se.

Fora o seu brilhante insight: "...para analisar e gerenciar satisfatoriamente uma empresa, é necessário apontar suas forças e fraquezas, e então traçar as decorrentes oportunidades e ameaças."

26 anos de mercado para designar o SWOT, na ordem, como a panacéia?!?!?

São mais e mais constatações de quão vazios costumam ser os termos da moda e o discurso dos ditos gurus da Administração para alcançar o sucesso. Tudo não passa de uma grande verborragia que aflue em uma definição de 6 milhões de palavras para "bom senso".

danse macabre

OK, abraço o meu fardo - tenho que me disciplinar a escrever. O histórico é longo e culminou em uma profissão na qual o faço a cada dia, mas nunca me esforcei em algo genuinamente meu.