31.5.07

uma carta aos fernandos que são araújos

Resolvo pesquisar o meu nome no Google e acabo em centenas de outros Fernandos que são Araújos. Um é ministro das Relações Exteriores; outro, violinista; o restante divide-se entre pilotos, físicos, tenistas, militares, padres. Muitos de Portugal.

Onde será que fico em meio a tantos homônimos? Certamente não sou o Fernando Araújo mais renomado, brilhante ou engraçado. Melhor não pensar muito nisso...

E o nome em comum, implica em similaridades entre nós? Afinal, fomos tratados e dirigidos sempre pelo mesmo código fonético, durante anos e anos. Vocês representam a descrição sintética de quem sou, o título pelo qual sou conhecido, a minha forma simbólica. Certamente temos peculiaridades somente nossas, esculpidas pelo tal poder da palavra - talvez os Fernandos Araújos sejam notórios estaladores de dedos ou tranquem todas as portas que encontrem no caminho.

Não nego o meu egocentrismo em achar que sou a matriz de tudo, e vocês, realidades alternativas, tangentes de quem sou. Partiram de um mesmo ponto de partida, o nome, mas trilharam seus próprios caminhos de sucessos e fracassos, uma encruzilhada por vez: local de nascimento, família, escola... Uma pausa para observar um pássaro e, pronto, surge o Fernando Araújo padre; um embarque impaciente naquele ônibus lotado e, bingo, nasce o Fernando Araújo banqueiro.

Se você, Fernando que é Araújo, estiver lendo essa carta porque também buscou saciar sua curiosidade no Google, fico feliz. Espero que a vida venha tratando-lhe bem. Suas felicidades realizadas são a minha em potencial. E melhor que o meu nome seja uma benção, não uma maldição. Um tanto idiota, claro, mas olha quanta gente por aí que se acha grande coisa por dividir o signo com algum global. Um nome tem que ter mais significado do que isso.

26.5.07

meet the writers: anton chekov


A Barnes & Noble, maior rede de livrarias dos EUA, é conhecida por promover eventos chamados Meet the Writers, nos quais escritores lêem trechos de suas obras e respondem às perguntas dos seus fãs. Prato cheio para pseudointelectuais babacas - daqueles que adoram mencionar autores em conversa, sem terem lido os livros - baterem o ponto e compilarem assunto suficiente para impressionar os ainda mais leigos (porém menos pretensiosos) ao seu redor.

Pois bem: um grupo de "produtores independentes" resolveu homenagear os 100 anos da morte de Anton Chekov com uma seção especial de Meet the Writers... Com o autor russo em pessoa... Dentro de uma Barnes & Noble... Com direito a leitura de trechos de seus livros, em russo...


... E uma banquinha na qual o próprio vendia seus próprios livros, autografados, por dois dólares cada, montada após o evento.


Genial.

25.5.07

polifonia







All I Know is Tonight... A música é de 2005, ano no qual conheci de fato o Jaga Jazzist, e hibernou na minha memória musical, hoje um mostruário de medianas bandas novas, mais catalogadas do que ouvidas.

Dois anos depois, em um daqueles estranhos lampejos involuntários da mente - não lembro de qualquer tipo de gatilho neurolinguístico, exceto uma pesquisa sobre o Mick Jagger -, veio a lembrança de All I Know is Tonight. Foi como uma reação imunológica do meu corpo ao seu presente estado de apatia. O diagnóstico, rápido, rendeu uma prescrição de sublimação lícita e discreta: 10 noruegueses, harmonizando instrumentos e sintetizadores como nunca ouvi antes.

All I Know is Tonight pode ser rotulada como um post-rock que não chateia, consistentemente trazendo ganchos melódicos à tona; metais sutis e seguros, sem o egocentrismo, o engarrafamento de notas, a estridência; vocais que viram instrumentos, coadjuvantes de algo muito maior; motifs que circulam com relevância. Música rica, orgânica, cheia de camadas que progridem sem ordem ou padrões; a felicidade de um acerto lotérico, 1 de 1.000.000, que resulta no delicado equilíbrio de um ecossistema de 10 instrumentos.

Como é bom lembrar que ainda posso ser arrebatado de tal maneira.

24.5.07

em termos com o passado







parakit - suburban kids with biblical names

i'm going back to the place i was born
my favorite hood
hallelujah!
i believe i've found what i came here for
i used to roam the streets on skateboards with cheap beer
a little punk
hallelujah!

found my old accordian
used to play it in the sun
went for a snack and a bottle of wine
didn't do that much
my life defined
all my friends are guitarists
and we know how to have fun
watching the kids build the tents outside
got me thinking about the times

i'm going back to the place i was born
my favorite hood
hallelujah!
i believe i've found what i came here for
i used to roam the streets on skateboards with cheap beer
a little punk
hallelujah!

and the tags are still there
meat is murder and pavement
i used to wonder when i went for a walk
if they meant pavement the band
or if it was just coincidence


Sempre a nostalgia... Os 5 minutos de felicidade decorrentes de um bom momento, seguidos por anos de conformismo no reconhecimento de que eles não voltarão mais.

A vida deveria ser uma sequência de pequenas euforias, sempre encerradas com a mais completa amnésia; euforia, amnésia, euforia, amnésia... Uma vida inteira de primeiras descidas pela colina, sentado no papelão, sem o tédio da repetição, o surgimento de preocupações, a cobrança dos outros, a ação corrosiva do tempo.

23.5.07

study: 38 percent of people not actually entitled to their opinion

CHICAGO — In a surprising refutation of the conventional wisdom on opinion entitlement, a study conducted by the University of Chicago's School for Behavioral Science concluded that more than one-third of the U.S. population is neither entitled nor qualified to have opinions.

"On topics from evolution to the environment to gay marriage to immigration reform, we found that many of the opinions expressed were so off-base and ill-informed that they actually hurt society by being voiced," said chief researcher Professor Mark Fultz, who based the findings on hundreds of telephone, office, and dinner-party conversations compiled over a three-year period. "While people have long asserted that it takes all kinds, our research shows that American society currently has a drastic oversupply of the kinds who don't have any good or worthwhile thoughts whatsoever. We could actually do just fine without them."

In 2002, Fultz's team shook the academic world by conclusively proving the existence of both bad ideas during brainstorming and dumb questions during question-and-answer sessions.


Acho que ganho mais lendo o The Onion do que a Folha.

18.5.07

o meu segredo

O único livro de auto-ajuda que eu leria seria sobre como lidar com pessoas que vivem de auto-ajuda.

16.5.07

contrato velado

"PROCURA-SE: ESCRAVA BRANCA

Mulher jovem, muito bonita, interessada em obter moradia, conforto e favores sexuais em troca de presença permanente em casa e favores sexuais irrestritos. Magra, levemente fornida, e com uma excelente coluna vertebral. Nível cultural mediano ou elevado. Dotes culinários e musicais serão altamente apreciados. Período de avaliação de 6 meses, possível estendimento para contrato permanente. Interessadas mandar e-mail com foto e descrição pessoal para..."


Trecho de Escrava Branca, conto do livro Dentes Guardados, de Daniel Galera

pílula amarga 3

Maior assincronia entre trilha sonora e cena - Os Intocáveis, quando o palacete de Al Capone é apresentado.

pílula amarga 2

Momento musical mais indigesto e forçado na história do cinema - Beleza Roubada, quando Liv Tyler "bota pra quebrar" ao som de Rock Star, do Hole.

pílula amarga

Música que todo mundo gosta (garotas, principalmente), e eu odeio - Blister in the Sun, Violent Femmes

11.5.07

um lembrete para o não-enlouquecimento


"Whether we like it or not, we are all bound to the earth with our experience of life and the reactions of the mind, heart, and eye, and our sensations, by no means, consist entirely of form, color, and design."