31.8.07

criatividade com argila

Float, de Marie E.V.B. Gibbons

Adivinha quem devia ser a melhor aluna de educação artística na escola.

30.8.07

desilusão

Queria muito ler The God Delusion, do Richard Dawkins. Cheguei a cogitar comprá-lo em inglês, na Amazon. Mas a vontade arrefeceu quando recebi um e-mail da Saraiva, anunciando, com destaque, a chegada da edição nacional. Sério? Richard Dawkins merecendo mailing especial da Saraiva?

Entendi a atenção especial quando abri a mensagem: trata-se de um livro polêmico. Ponto. Aí está o seu grande selling point. As pessoas não se interessam muito pelo autor e seus argumentos: o que importa é que The God Delusion causa. "Cara, estou lendo um livro de um sujeito que diz que Deus não existe! Muito lôco!"

Desde quando ser polêmico é mérito?

28.8.07

crank that

Imagine o É O Tchan. Agora, imagine o É O Tchan, versão web 2.0.

Um sujeito chamado Soulja Boy (pronuncia-se Soldier Boy) criou uma dancinha mirabolante para a sua música Crank That. As pessoas gostaram tanto que resolveram publicar vídeos delas próprias tentando acertar os 867 passos da coreografia. Milhares de pessoas. Nasceu um fenômeno pop.

Soulja Boy lançou então um vídeo oficial da música, no qual quebra a quarta parede e reconhece o estrago que causou no mundo real, mostrando pessoas arriscando os passos nas ruas e um site similar ao YouTube. Enquanto isso, caracteres no rodapé incitam o público a comprar ringtones e outros produtos da grife Soulja Boy. Muito maroto.



Para garantir a fidelidade de sua dança, Soulja Boy também publicou um vídeo oficial de instruções para a coreografia do refrão. Quem quiser se distanciar dos amadores e aprender TODOS os passos deverá comprar um DVD, disponível no site oficial do jovem.



Esse aí comprou o DVD.

24.8.07

espaço de sobra

o céu da minha casao céu da minha casa

A turma do Google adicionou um feature ao popular (e viciante) Google Earth que permite a observação de aproximadamente 100 milhões de galáxias e 200 milhões de estrelas.

Batizado de Google Sky, o novo modo está incluso na última versão do Earth, disponível para download aqui.

Fui fascinado pelo espaço por um bom tempo da minha infância - várias das redações que escrevia acabavam encontrando um jeito de chegar às estrelas; uma tinha planetas como personagens!

É claro que não existia coisa semelhante ao Google Sky na época. Minhas referências provinham de enciclopédias, com suas fotos desbotadas e tabelas de factóides. Imagino que a minha relação com o espaço não seria tão mítica caso eu fosse uma criança hoje em dia. Uma exposição tão transparente de um assunto tão misterioso não deixa de ser incrível, mas furta-nos da graça de preencher lacunas com a imaginação.

22.8.07

rock alternativo

Ao escrever sobre o Superdrag no meu outro blog, Dominódromo, fiquei intrigado com o desaparecimento do rock alternativo.

Quem se lembra de ouvir ou falar de rock alternativo? O termo nem existe mais hoje em dia, e aquela sonoridade, tão peculiar e nichada aos nossos ouvidos de então, desapareceu.

Olhando para trás, com a percepção enviesada pela terminologia indie, tenderia a enquadrar superficialmente aquele bolo de bandas sob a alcunha de indie rock noventista. Mas a verdade era outra: muitas faziam parte de majors, com videoclipes na televisão, singles nas rádios e vendas consideráveis de discos. A MTV, por exemplo, dedicava 2 horas e meia diárias (!) ao rock alternativo com o Gás Total, noves fora o clássico Lado B.

A partir de 96, as majors desistiram do rock alternativo, mandando essas bandas embora após um ou dois discos, mesmo após gastarem milhões em seus contratos. Suas fichas foram destinadas a outros estilos, como o punk, o big beat e o new metal. Foi essa ação das gravadoras que induziu o público a cansar do gênero e interessar-se por outros "produtos" (uma estratégia deveras inteligente, similar à da Apple)? Ou as pessoas genuinamente cansaram-se do rock alternativo, forçando as gravadoras a partirem para um plano de contingência?

20.8.07

elite branca

Alguém já ouviu The Forms? A banda é boa e tem um ótimo disco, "Icarus", produzido por Steve Albini, lendário produtor, músico e jogador de pôquer.

Aqui, dois membros do grupo, os gêmeos Jackson e Brendan, prestam tributo ao programa que azeitou sua adolescência, Beverly Hills 90210, vulgo Barrados no Baile. Notem a técnica dos rapazes.



Ah, as lembranças logo vêm à tona: as costeletas, os topetes, os adolescentes de trinta e poucos anos, as cenas ridículas de ação, os serviços públicos sobre drogas, gravidez na adolescência, câncer de mama, violência doméstica e vício em jogatina.

O drama sofrido pelos personagens do seriado fazia a vida da Helen Keller parecer a do Jorginho Guinle. Como alguém pode ter a coragem de dizer que a elite branca não sofre? Vejam pelo que esses jovens bem-nascidos tiveram que passar:

David - o pior músico e diretor de vídeos de todos os tempos, virou depressivo e acabou por buscar inspiração no crack;
Steve - o atleta babaca, com suas calças brancas, o afro loiro e o uso de esteróides;
Valerie - a sociopata da paróquia, era mentirosa patológica, drogada e assassina do próprio pai. A personagem foi criada para substituir o papel da Brenda, interpretada pela Shannen Doherty, mala sem alça afastada pelos produtores do programa devido ao seu complexo de diva;
Kelly - a moça mais azarada da história: foi estuprada - e assassinou o estuprador -, sofreu lavagem cerebral e entrou em um culto, virou alcoólatra, ficou viciada em cocaína e também em pílulas para emagrecimento, sofreu queimaduras sérias durante um incêndio em uma festa rave, abortou, levou um tiro em um assalto, foi assediada por seu patrão e virou refém de sua roommate na universidade.

Bons tempos.

17.8.07

disciplinando seu cachorro com sarcasmo e humilhação verbal

gangsta crooning

Como Robert Goulet, lendário crooner de Las Vegas, daria um toque de classe a alguns dos maiores sucessos do rap americano.

Foi lançado um DVD especial do Saturday Night Live com as melhores sketches do Will Ferrell em seus muitos anos de programa. O material está no YouTube, na íntegra, dividido em 12 partes. A primeira está aqui. Para ver o resto, basta seguir os vídeos relacionados.

16.8.07

puxando brasa para a própria sardinha

Um sujeito criou um programa capaz de rastrear os responsáveis por qualquer edição já realizada no Wikipedia. Como era de se esperar, os mais interessados em tirar informações polêmicas ou agregar fatos edificantes a cada tópico eram os próprios objetos dos verbetes. Dentre os exemplos citados nesse artigo da Wired estão a CIA, alguns políticos americanos e, especialmente, a Diebold.

Para quem não sabe, a Diebold e a ES&S, empresas de um mesmo dono, são responsáveis por 80% das urnas eletrônicas americanas.

E o que a turminha da Diebold apagou no próprio verbete? As críticas à fraudabilidade de suas urnas, os artigos que apontavam para evidências de manipulação nos votos da eleição presidencial de 2004, o fato do CEO da empresa ter sido um dos patrocinadores da campanha Bush...

Façamos um breve liga-pontos entre: a) o desespero desses caras em sumirem com quaisquer fontes de suspeitas; b) essa listinha de tidbits sobre 2004, que aponta a discrepância entre os votos de cédula e os eletrônicos, e também entre as pesquisas boca-de-urna e os resultados; e c) esse destrinchamento de como a exploração das urnas eletrônicas teria ocorrido. Difícil não ficar ainda mais desconfiado de que sim, houve algo de podre na vitória do Bush.

vi dois filmes muito bons recentemente

Foram Manderlay e Thumbsucker (acho que o nome no Brasil é Impulsividade). Estou com preguiça de escrever alguma resenha pretensiosa, mas não queria deixar de destacá-los aqui.

São filmes bem diferentes entre si, unidos pela capacidade de despertar questões dentro de mim: o primeiro, numa esfera maior, sobre cultura, sociedade, heranças históricas e determinismo; o segundo, numa esfera bem pessoal, sobre família, autocrítica, expectativas e identidade.

dominódromo

Tenho um novo blog, Dominódromo, no qual falarei somente de música. Espero conseguir publicar coisas legais a serem ouvidas, na taxa de um MP3 por dia. A empreitada será compartilhada com a senhorita Karen Kopitar.

O Disappearer continuará a ser a salada de sempre.

15.8.07

ô povinho

Brasileiro é campeão de roubo de carro no Japão (Folha Online)

"De 2005 para 2006, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, o número de brasileiros presos no Japão subiu de 355 para 412 -- alta de 16%. No mesmo período, o consulado do Japão em São Paulo registrou queda de 22% na concessão de vistos de longa permanência.

(...)

Entre os estrangeiros acusados de crimes e presos em 2005, os brasileiros estão em segundo lugar, representando 12,5% do total de detenções. Sobre o total de roubos cometidos por estrangeiros, os brasileiros são responsáveis por 34,7%, só atrás dos chineses. Sobre o total de roubos de veículos cometidos por estrangeiros, 59% são de responsabilidade dos brasileiros."

amy winehouse: "i think i'll have to go to rehab"

Segundo o The Sun, A Amy Winehouse, que hoje toca até na Jovem Pan, foi internada em um hospital de Londres, sob "grave estresse", um claro eufemismo para OVERDOSE.

O que encontraram no estômago da moça, após uma refrescante lavagem gástrica? Entorpecentes sortidos, provavelmente deglutidos com uma garrafinha de whisky, para descerem macios e reanimarem.

Por falar em reanimação, parece que chegaram ao ponto de injetar adrenalina.

O The Sun é fofoqueiro, mas parece que a história é verdadeira. A Island soltou uma nota cancelando shows da semana vindoura, o que seria um tanto exagerado para apenas um estado de "grave estresse".

Acho que ela devia ouvir os amigos e ir para a tal "Rehab".

7.8.07

desorientação vol. 1

Buscas recentes no Google que acabaram por desembocar aqui:

"penetrações chocantes"
"musica reivi"
"roupas para rave"
"blogspot de receitas de bolos"
"reivi"
"carta de despedida colega de serviço"
"suruba meninas"
"quero melhorar mimnha caligrafia"

6.8.07

samba de uma nota só

ácido lático

- "Cansaço por viver"?... Como assim? A fadiga é para agentes, heróis, flechas de convicção. O fardo da indefinição, inseparável às ações, é o que custa a ser suportado; a reação é apenas uma, simples, limpa e elementar.

- Mas a aceitação do absurdo da vida é um esforço calado e imóvel. Ela consome o vigor, mas de pouco em pouco, impedindo a dor de vir à tona, certeira, pela primeira vez.

- E como seria sentir algo assim, tão intenso em sua incompreensibilidade?

- Por que a curiosidade? Deixe essas tangentes de lado e atenha-se mais à sobrevivência, enquanto ainda a tem como opção. Que tipo de lunático arremessaria o próprio corpo contra o colapso? A caimbra está logo a frente, conveniente, bastará reagir de acordo.

3.8.07

garota, eu vou pra curitiba

O Grist publicou uma relação das 15 cidades mais verdes do mundo e, na terceira posição, dando o ar de sua graça, consta Curitiba.

Por que tanta moral? Bem, três quartos dos curitibanos dependem do transporte público, sua área verde conta com impressionantes 54 metros quadrados por habitante e o índice de satisfação dos moradores com a cidade é de 99%.

Enquanto isso, 70% dos paulistanos disseram que suas vidas seriam mais felizes se morassem em Curitiba. Ouch.

Para aprender uma lição de urbanismo e planejamento executivo, vale a pena dar uma olhada nesse artigo do commmondreams.org, uma das melhores coisas que já li sobre o assunto.

Sim, é possível reverter o círculo vicioso de uma cidade em expansão, equilibrando arrojo e bom senso ao permutar os lugares-comuns do equivocado urbanismo brasileiro por soluções criativas e, acima de tudo, humanistas. Parabéns para o Jaime Lerner.

parece que está esquentando de vez...

O que é uma pena. O frio estava divertido: o suadouro tinha dado trégua e dava para usar gorro (derelicte!*) e brincar de ser europeu. O único problema dessa semana atípica era a minha total incapacidade de trocar o canal da TV.

Sou daqueles que imputa os números, 0 - 5 - 2, ao invés de subir e descer pelos canais. Entretanto, no domingo, de molho na cama e morrendo de medo de ficar doente, a cada vez que tentava mudar o canal, errava cinco, seis vezes seguidas as teclas do controle remoto, de tão travados que estavam os meus dedos.

Você sabe que está frio quando se sente como um titereiro incompetente, dando ordens a um corpo satisfeito com o quase.

* - "Let me show you Derelicte. It is a fashion, a way of life inspired by the very homeless, the vagrants, the crack whores that make this wonderful city so unique." - Mugatu

prova de que o mundo é injusto, vol. 1

Sessões de yoga, pilates e RPG são longos rituais de esticamentos bizarros das costas que, miraculosamente, acabam colocando suas vértebras no lugar certo.

Por que será então que, ao menor espreguiçamento ou virada mais brusca no cotidiano, fatalmente suas costas saem do lugar?

contexto é tudo

Alguém se lembra daquela música do Paralamas do Sucesso?

"Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou:
"são trezentos picaretas com anel de doutor"..."

Rarará.

2.8.07

o efeito republicano


Gráfico que ilustra a crença de 32 países europeus, Estados Unidos e Japão na teoria evolucionista. Dêem uma olhadela no penúltimo lugar...

E ainda reclamam do fundamentalismo dos outros.

1.8.07

cristalização

Ando em busca de um pouco de euforia. Por que ela se esconde tanto, hoje em dia? Na infância, estava sempre lá, pronta para emergir à primeira chance - chutando uma lata, correndo com o cachorro, fazendo uma barraca de cobertores na sala, subindo em uma árvore. Bastavam movimentos bruscos do corpo, desafios às regras e besteiras ditas.

Na adolescência, a euforia afunilou-se um pouco, escorrendo para a descoberta da música própria, que fazia sentido para você e mais ninguém, e as primeiros experiências com garotas, claro. A música era uma satisfação artística, a identificação de si próprio na obra de estranhos; com as garotas, a satisfação era fisiológica mesmo, uma solução à angústia do próprio corpo. Como ambas as novidades era vividas de forma intensa, implacável! O coração palpitava, forte, alimentando um cérebro que não largava o osso - o mesmo disco era ouvido por um ano, todas as noites, com encarte na mão; qualquer forma de contato na curva de relacionamento com uma garota, do primeiro "oi" ao primeiro beijo, era o ápice do dia.

Imagino que cada um tenha o próprio pretexto para a euforia. Olhando para trás, percebo que os meus momentos eufóricos eram descobertas sensoriais, bens que se rarefazem no decorrer dos anos, quando o mundo, as pessoas, o próprio corpo e a personalidade tornam-se velhos conhecidos. Tudo é colocado em gavetas, tudo é preconcepção, tudo é reação. Como seria possível encontrar essa descoberta sensorial, hoje, na vida que levo?

A arte ainda me proporciona descobertas sensoriais, mas de forma cada vez mais escassa. Muitos entretanto conseguem extrair muito dela, quase como se por oxigenação. Parecem-me seres iluminados, em consonância com outra frequência à minha - se não sinto isso de forma natural, que pelo menos me esforce em dobro!

Existem também as drogas: não as consumo, mas parece que elas dão conta do recado para quem o faz. Parando para pensar, são atalhos de um mesmo processo, pois mudam a percepção das coisas e, por consequência, geram picos de euforia, sem a angústia dessa procura infrutífera e existencial por momentos reais que inspirem o mesmo estado. Uma euforia Nissin Miojo, instantânea, embalada e encontrada no mercado - basta adicionar água.

Verei uns filmes do Bergman no final de semana para ver se me inspiro a perseguir mais a arte e ser um pouco menos cínico; caso os planos dêem errado, fumo crack.