13.12.06

complexo de viralata

Jens Lekman teve noite de Morrissey aqui em São Paulo. Fila antes da hora da entrada, capa do Caderno 2, adoração irrestrita de gente que nunca ouviu falar do sujeito.

Não tinha idéia da comoção que esse show causaria. E aposto que ele também não. Mas sei que a grife Suécia vende bem.

Existe um glamour acerca da Escandinávia e um senso implícito de inferioridade nossa ante os caras. Como países tão pequenos podem ter tantos artistas relevantes, tantas histórias para contar e tantas empresas bem-sucedidas mundialmente?

O sr. Lekman é bom, muito bom mesmo. Mas não acho que o fenômeno de ontem tenha decorrido de seu mérito artístico. Faltava senso crítico na platéia, sobrava idolatria.

11.12.06

a ironia morreu na chopperia liberdade

Na minha cabeça, a ironia precisa ter algum fundamento, não deve existir por si só. Ela precisa de um objetivo para ser empregada: um "larga de ser estúpido", um "notem o absurdo dessa situação" ou um "só vocês três precisam entender isso".

Isso, entretanto, é conversa para outro momento.

Hoje, friso a definição central da ironia. Para mim, irônicas são as palavras ou ações das quais o sentido figurado é completamente oposto ao sentido próprio. Quando o primeiro não é oposto ao último, não há ironia, mas apenas uma constatação da realidade.

Não há um pingo de ironia nos indies que cantam sertanejo ou pagode na Chopperia Liberdade, para depois falarem mal ou agirem com preconceito ante outros gêneros. Não há um pingo de ironia em tocar Guns n' Roses na pista, porque "é engraçado" - talvez tenha sido, por 2 segundos, 5 anos atrás. Não há um pingo de ironia em fazer uma produção visual elaborada, com maquiagem, cabelo, roupas e acessórios mil, para depois criticar mauricinhos.

O que há é vergonha. Ponto. Normalmente, coletiva. No fundo, todos gostam das mesmas coisas vergonhosas - as músicas bregas, o visual de produção meticulosa, todas aquelas coisas tão fáceis de serem criticadas -, mas escondem-se atrás da ironia, em um grande acordo tácito de negação.

Meu alerta de tema recorrente (mas coerente) está apitando, mas, novamente, como vivemos de acordo com a aprovação alheia, não? De onde vem tamanha dificuldade em assumir o que somos? De onde vem tamanha capacidade de conviver com paranóia e fingimento para vendermos um gosto fictício que agrada os nossos amigos? Por isso, a ironia é uma fuga fácil, rápida e indolor. Podemos baixar a guarda e sermos um pouco do que realmente somos.

10.12.06

o que aprendi hoje

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7.12.06

touché

"It's hard to tell who's the asshole here, but my vote's usually for any guy who calls himself Bono Vox."

look who's got a website

Não gosto do Ryan Adams, mas sou obrigado a assumir que o homem é um gênio.

Liguem as caixas de som e visitem a seção da rádio - o ócio criativo acaba de ser redefinido.

6.12.06

fuém fuém

2007 reserva uma série de lançamentos musicais de peso. Da primeira fornada, já é possível ouvir o novo disco do Bloc Party, devidamente vazado por toda a internet, com 5 meses de antecedência (isso TEM que ser um recorde - existe alguém registrando esse tipo de estatística?).

Então...
Hmmmm...
É impressão somente minha ou o disco é bem fraquinho, hein?

Sua segunda metade, especialmente, é anêmica. Tempo vagaroso, elementos eletrônicos de mau gosto e vocal mais soul, sempre com 3 minutos iniciais que chegam a lugar nenhum. Maturidade, my ass.

Sorte que ainda são muitos os lançamentos do ano. Eles tirarão esse gosto amargo da minha boca. Não acredito em presságios, somente em fatos.

Fato: sei que, do outro lado do Atlântico, a voz mais esganiçada do show business está prestes a irritar ainda mais gente. Quem foi aos shows recentes do Crap Your Hands Say Yeah, disse que as músicas novas são fabulosas.

Não tem erro. Agora, é esperar para ouvir o tal Some Loud Thunder.

Nota do editor:
- PSIU!!! Você já ouviu várias músicas novas do Clap Your Hands Say Yeah.
- Sério? Não me lembro disso. Foram tão insignificantes assim?
- Não sei se "insignificantes" seria um bom adjetivo. Mais para ruins mesmo. Mas aposto que muita gente gostará da forma como eles abraçaram o folk e rejeitaram a estética rock.
- As pessoas adoram qualquer coisa sob o rótulo folk. Senso crítico, be damned.

4.12.06

don't bore us - get to the chorus!

Gosto de pensar sobre como foi o processo de composição e gravação de alguns dos meus discos favoritos. Loveless, Daydream Nation, Crooked Rain, Crooked Rain... Grandes álbuns, prováveis grandes histórias.

O que há por trás de toda essa genialidade enclausurada em plástico? Quem foi decisivo no rumo que cada música tomou? De onde veio a inspiração para a composição das faixas? Quem deu mais chiliques? Quem Kubrickou, peitou a gravadora e exigiu o final cut do disco?

A idéia de ter esse conhecimento, entretanto, torna-se muito mais atraente quando penso sobre discos nem tão geniais assim.

O pop deslavado, formuláico e radiofônico deve saber rir de si próprio. Tenho o mais absoluto respeito por artistas cientes disso. Eles são poucos, ante os muitos que tratam sua música como obra-de-arte e discutem conteúdo e significado, para depois tirarem fotos sexy(ies), cheias de caras e bocas, para o encarte do CD, a revista de fofoca, o perfil do myspace.

Você já viu essa história antes: boybands dizem que amadureceram, cantoras teen juram que ajudaram na composição de suas novas músicas e bandas de pop-rock citam influências nebulosas para um novo disco, idêntico ao anterior.

Acompanhar a comédia não-intencional dessa gente se levando a sério seria puro ouro televisivo - imaginem um programa que exibisse um sujeito pretensioso como o Lenny Kravitz, compondo e defendendo ideologicamente Fly Away. Vocês sabem, aquela música cujo refrão pontua:

"I want to get away
I wanna fly away
Yeah
Yeah
Yeah

I want to get away
I wanna fly away
Yeah
Yeah
Yeah
Oh yeah"

Um documentário disso, comandado por um entrevistador bem cínico, seria mágico. Imaginem as possibilidades:

Entrevistador: "Ah, essa música é sobre o eterno desejo humano por fuga, né, Lenny?"
Lenny: "Sim, claro, essa vida é muito dura e, às vezes, sentimos vontade de esquecer os problemas e mandar tudo pelos ares."
Entrevistador: "Por isso que você se droga tanto."
(silêncio constrangedor)