22.11.06

reverberação

Como algo banal como a morte - quase um simples desligamento de uma máquina -, pode ter uma amplitude tão desmedida? A incongruência entre o físico e o mental choca.

A cada falecimento, um calhamaço de memórias, conceitos, opiniões formadas e conhecimento próprio ou adquirido desintegra-se, pura e simplesmente.

Morre também um pedaço do futuro: deixam de existir todos os fatos, ações e reações vindouros dessa pessoa, caso ainda estivesse viva, mais toda a repercussão destes, direta e indireta, em um sem número de pessoas.

E o que é tirado dos outros? Amigos próximos, colegas de trabalho, familiares e até cachorros... Todos possuíam relações com essa pessoa, próximas ou distantes, cujas nuances acabam por virar feridas abertas - quanta coisa a ser dita, quantos planos a cumprir, quantos favores a cobrar, quantas dívidas ainda por saldar.

Perdem-se as reações de cada um à mera existência do falecido ainda vivo: milhares admiravam-no; milhões o odiavam; alguns suavam frio ao seu lado; outros, falavam mal à sua ausência. Fragmentos comportamentais que desaparecerão do repertório de cada um, por mera questão de desuso.

Esse simples fechar dos olhos reverbera sem as justas proporções pelas quais esperamos na vida. Queremos coerência, lógica, controle sobre nossas vidas, ação e reação. Mas a única coisa certa que temos, a morte, torna nossa existência tênue, frágil, mirrada. Como procurar algum sentido nessa maluquice toda cujo fim reservado é tão abrupto?

1 comment:

Pedro Cunha said...

A vida é traição