25.8.06

death and taxes

Impostos são necessários, mas irritantes, especialmente devido à falta de accountability de nossos coleguinhas do showmício. Duro é pagar um tarifa de importação sem fundamento e arbitrária - mas não se enganem, sempre alta - ao comprar CDs do exterior.

Quem compra CDs originais hoje em dia? Eu, com iPod, computador, banda larga e CD-R, poderia estar a uma perna-de-pau de ser pirata de marca maior, mas escolho comprá-los quando possível. As loucuras cometidas com os preços dos CDs nacionais são dignas de muita discussão (por sinal, não acho que justificam a pirataria), mas seriam bem-vindas à minha realidade - adoraria poder reclamar dos preços, se ao menos conseguisse encontrar aqui os malditos CDs das bandas queridas do meu coração.

Nada me resta, exceto comprar as edições internacionais, únicas disponíveis, por algum site de e-commerce. As intenções são nobres, juro: quero que o artista receba dinheiro por seu trabalho; quero saber quem tem sua gratidão; quero ouvir sua música na mais alta qualidade; e, especialmente, quero ter mementos da produção cultural que tanto sentido fez a cada instante da minha vida.

Ao comprar um CD pela Amazon, pago o mark-up da loja, os impostos do produto, o envio do mesmo ao Brasil e os impostos desse envio. Qual é o sentido de pagar uma tarifa de importação de 60% sobre um valor muitas vezes presumido sem o menor critério pela Receita? Isso quando os próprios Correios não tentam embutir uma taxa sobre a entrega...

Esse CD foi produzido no exterior. Não havia alternativas no mercado nacional. De fato, jamais compraria um CD nacional de outra banda em detrimento do importado. Ninguém aqui do mercado fonográfico deixou de faturar - somente o sujeito da balada na qual eu encheria a cara com o dinheiro. Acho que ele abriria mão desse montante para escapar da encheção de saco causada por mim, entretanto.

Assumindo que o protecionismo não faz sentido nessa situação, por que não são cobrados somente os impostos decorrentes da circulação dessa receita em nossa economia? Sim, o dinheiro que gastei na compra desse CD importado deixou de circular aqui e gerar impostos, mas jamais renderia os gordos 60% tarifados na importação (que incidem também no frete!).

Conta de padeiro

Para facilitar o exercício, vamos assumir que todo esse montante seria gasto com CDs nacionais - a receita total gerada por toda a produção e comercialização de um CD equivaleria a aproximadamente 30% do preço de sua venda, de acordo com Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDI). Absurdo, de acordo com os padrões do exterior, mas uma dádiva ante o atual cenário.

AGORA
4 CDs de US$10 = US$40
Taxa de frete = US$10
Taxa de importação = US$30
TOTAL = US$80 / US$20 por CD / R$42,60 por CD

SUGESTÃO
4 CDs de US$10 = US$40
Taxa de frete = US$10
Taxa de importação = US$15
TOTAL = US$65 / US$16,25 por CD / R$34,60 por CD

O pior é pensar que estamos falando de música, e de que essa verdadeira extorsão priva-nos o acesso a um bem cultural. Enquanto isso, é permitida à CIE a captação incentivada de R$9,4 milhões para a tour do Cirque du Soleil, espetáculo cujo ticket médio supera R$250, ao Brasil. Realmente, todos crescemos culturalmente com a vinda dessa pasmaceira digna de Hans Donner. Imagino a fúria de quem vive do teatro e do circo no Brasil.

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