Impostos são necessários, mas irritantes, especialmente devido à falta de accountability de nossos coleguinhas do showmício. Duro é pagar um tarifa de importação sem fundamento e arbitrária - mas não se enganem, sempre alta - ao comprar CDs do exterior.
Quem compra CDs originais hoje em dia? Eu, com iPod, computador, banda larga e CD-R, poderia estar a uma perna-de-pau de ser pirata de marca maior, mas escolho comprá-los quando possível. As loucuras cometidas com os preços dos CDs nacionais são dignas de muita discussão (por sinal, não acho que justificam a pirataria), mas seriam bem-vindas à minha realidade - adoraria poder reclamar dos preços, se ao menos conseguisse encontrar aqui os malditos CDs das bandas queridas do meu coração.
Nada me resta, exceto comprar as edições internacionais, únicas disponíveis, por algum site de e-commerce. As intenções são nobres, juro: quero que o artista receba dinheiro por seu trabalho; quero saber quem tem sua gratidão; quero ouvir sua música na mais alta qualidade; e, especialmente, quero ter mementos da produção cultural que tanto sentido fez a cada instante da minha vida.
Ao comprar um CD pela Amazon, pago o mark-up da loja, os impostos do produto, o envio do mesmo ao Brasil e os impostos desse envio. Qual é o sentido de pagar uma tarifa de importação de 60% sobre um valor muitas vezes presumido sem o menor critério pela Receita? Isso quando os próprios Correios não tentam embutir uma taxa sobre a entrega...
Esse CD foi produzido no exterior. Não havia alternativas no mercado nacional. De fato, jamais compraria um CD nacional de outra banda em detrimento do importado. Ninguém aqui do mercado fonográfico deixou de faturar - somente o sujeito da balada na qual eu encheria a cara com o dinheiro. Acho que ele abriria mão desse montante para escapar da encheção de saco causada por mim, entretanto.
Assumindo que o protecionismo não faz sentido nessa situação, por que não são cobrados somente os impostos decorrentes da circulação dessa receita em nossa economia? Sim, o dinheiro que gastei na compra desse CD importado deixou de circular aqui e gerar impostos, mas jamais renderia os gordos 60% tarifados na importação (que incidem também no frete!).
Conta de padeiro
Para facilitar o exercício, vamos assumir que todo esse montante seria gasto com CDs nacionais - a receita total gerada por toda a produção e comercialização de um CD equivaleria a aproximadamente 30% do preço de sua venda, de acordo com Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (APDI). Absurdo, de acordo com os padrões do exterior, mas uma dádiva ante o atual cenário.
AGORA
4 CDs de US$10 = US$40
Taxa de frete = US$10
Taxa de importação = US$30
TOTAL = US$80 / US$20 por CD / R$42,60 por CD
SUGESTÃO
4 CDs de US$10 = US$40
Taxa de frete = US$10
Taxa de importação = US$15
TOTAL = US$65 / US$16,25 por CD / R$34,60 por CD
O pior é pensar que estamos falando de música, e de que essa verdadeira extorsão priva-nos o acesso a um bem cultural. Enquanto isso, é permitida à CIE a captação incentivada de R$9,4 milhões para a tour do Cirque du Soleil, espetáculo cujo ticket médio supera R$250, ao Brasil. Realmente, todos crescemos culturalmente com a vinda dessa pasmaceira digna de Hans Donner. Imagino a fúria de quem vive do teatro e do circo no Brasil.
25.8.06
death and taxes
postado por fernando araújo às 11:21 PM 0 comentários
23.8.06
enquanto isso, na Polícia Federal...
Renovar o passaporte a cada cinco anos é fogo, hein? Sinto como se tivessem revogado a minha cidadania e que para reavê-la, precisasse pagar, CARO!
Mas amanhã será o pior dia: 215 reais + 38 reais para ser julgado e humilhado na tensa, traumática e derradeira entrevista de renovação do meu visto americano. Juro que chamo o PROCON se aprontarem para cima de mim.
P.S. - Foi ridiculamente fácil. O sujeito da entrevista me fez uma pergunta e disse "Boa viagem" no final. Tentarei ser menos dramático daqui em diante.
postado por fernando araújo às 9:42 PM 1 comentários
...
Sempre penso sobre as pessoas indefinidas que criaram as coisas mais óbvias e elementares para nós. Enquanto vangloriamos os grandes inventores, onde está o sujeito que primeiro transformou claras em neve ou vislumbrou as três cores e funções do semáforo?
A coisa fica mais crítica quando penso em nossa língua - surge uma dúvida por minuto na minha cabeça. Por ora, gostaria de conversar com a turma responsável pela pontuação. Acho estranho terem chegado a apenas uma solução "emotiva" na língua formal escrita, o ponto de exclamação (!) - interjeições aside.
Onde fica o meu amado sarcasmo? Relegado aos pontos de interrogação (?) que acompanham perguntas retóricas? A tristeza? A sensualidade? E a perplexidade, alguém?
Até mesmo a raiva fica indefinida ao vermos que o "!" serve para tapar buracos na hora de transmitir admiração, surpresa, assertividade, entusiamo... E ainda há quem critique o coitado.
Ingratos!
O surgimento e a popularidade dos emoticons não são modismos, mas necessidades. Suplantam a carência de nossa sisuda língua, de forma legítima e prática. Por mim, deveríamos adotá-los oficialmente.
A solução já está pronta, nem precisaremos de novos teclados. Bastará criar cadernos de caligrafia para carinhas e bocas, e ensiná-los nas escolas - não que as crianças não conheçam emoticons, mas alguém precisará avisá-las de que agora poderão usá-los em suas redações ;-)
postado por fernando araújo às 1:22 AM 0 comentários
20.8.06
ceteris paribus
Precisamos mesmo de receitas de bolo para um relacionamento bem-sucedido? E TODA MALDITA SEMANA? Quantos são os best-sellers e programas de TV feitos por gente de suposta credibilidade e definitivo poder de influência tratando seres humanos como gado, e seus conflitos, inseguranças, estigmas e expectativas como meros instintos?
Como aplicar prescrições universais em criaturas tão tinhosas, complicadas, confusas e instáveis como nós? Um problema crônico de desentendimento entre um casal, decorrente de 85.000 variáveis para cada lado, altamente interinfluenciáveis e possivelmente modificadas nas últimas 48 horas, é tratado como se fosse uma crise de fome.
EXEMPLO DE UM CASAL COM PROBLEMAS
Problema: O homem sente ciúme de sua mulher
Diagnóstico óbvio de uma variável: o homem é inseguro porque sua mulher está bancando as contas da casa.
Prescrição única e unilateral: basta deixá-lo fazer coisas de homem - consertar a pia, matar o rato e bater em você -, para dissipar suas dúvidas sobre a própria masculinidade. Em um piscar de olhos, ele voltará a ser aquele príncipe cortês dos 3 primeiros anos de relacionamento!
A ingenuidade de quem consome toda essa balela é a mentira que abriga sua mediocridade: "Ah, comprei o livro e fiz minha parte, pois deixei claro que quero melhorar. Refletir sobre o problema? Para quê? Alguém já o fez para mim e expôs a solução em 4 palavras iniciadas pela letra "D"!".
postado por fernando araújo às 11:01 PM 0 comentários
small talk
Ainda não compreendo o que separa aquele cuja renda anual supera os 7 dígitos e o gerente eterno, e o tal Aprendiz definitivamente não elucidará o ponto em questão.
O Robertão apontou, em tom sério, a recém-constatada sorte de um sujeito como uma das principais características de uma carreira profissional de sucesso. Na minha percepção, a cabeça de uma pessoa bem-sucedida não pode crer que a sorte é uma virtude necessária. Anos e anos de cursos, livros e seminários sobre processo decisório, competências, liderança e dedicação para dar uma grande banana à meritocracia que fundamenta o mundo dos negócios?
O Justus entregou-se.
Fora o seu brilhante insight: "...para analisar e gerenciar satisfatoriamente uma empresa, é necessário apontar suas forças e fraquezas, e então traçar as decorrentes oportunidades e ameaças."
26 anos de mercado para designar o SWOT, na ordem, como a panacéia?!?!?
São mais e mais constatações de quão vazios costumam ser os termos da moda e o discurso dos ditos gurus da Administração para alcançar o sucesso. Tudo não passa de uma grande verborragia que aflue em uma definição de 6 milhões de palavras para "bom senso".
postado por fernando araújo às 10:50 PM 0 comentários
danse macabre
OK, abraço o meu fardo - tenho que me disciplinar a escrever. O histórico é longo e culminou em uma profissão na qual o faço a cada dia, mas nunca me esforcei em algo genuinamente meu.
postado por fernando araújo às 10:30 PM 1 comentários