15.6.07

as vinhas da ira

"Great people talk about ideas, average people talk about things, and small people talk about wine."
Fran Lebowitz

5.6.07

odeio compras

> Odeio a estupidez do estacionamento do Eldorado, que entrega suas 200 melhores vagas a valetes
> Odeio o descompasso das rodinhas podres dos carrinhos de supermecado.
> Odeio a constatação da minha dependência a mais de 300 produtos industrializados.
> Odeio a completa ausência de algum protocolo quanto à disposição do carrinho, agora vazio, no estacionamento.
> Odeio o infalível vazamento de algum produto bem tóxico de limpeza, sempre notado, com surpresa, ao toque.
> Odeio a humilhante genuflexão causada pelo rompimento da alça do saco de compras.
> Odeio a quase-gangrena dos dedos, estrangulados por dezenas de forcas plásticas, cujos alçapões são garrafas, latas e grãos.

4.6.07

metaloucura

Hoje, descendo a Groenlândia, vi um sujeito de terno e gravata puxando a guia de um cachorro imaginário. Que louco mais elegante!

Ao esfregar os olhos, constatei que era um segurança recolhendo a corrente do estacionamento de uma loja, para impedir os não-clientes de pararem seus carros lá. O louco era eu, enxergando coisas, em algum tipo de projeção do meu próprio estado.

A sanidade deve ir embora assim, um pino por dia.

1.6.07

virgem maria!

O sexo sempre foi viral, bem antes da internet. O relato da experiência de um repetente ou a mera alusão de um cenário sexual em um filme despertavam a curiosidade de toda uma sala de aula. Em questão de instantes, revistinhas de sacanagem circulavam pela classe, histórias sexuais mirabolantes viravam lendas na escola inteira, sessões escondidas de filmes pornográficos eram realizadas no primeiro instante em que alguém da turma ficava sozinho em casa. Poucos entendiam direito o propósito de tudo isso, mas todos tinham a certeza de que seriam mais adultos quanto mais próximos estivessem desse mundo, na estranha e competitiva busca pelo reconhecimento da própria maturidade. O sexo era mais um simulacro do "ser adulto", assim como o álcool e, especialmente, o cigarro. Qual seria o ponto em esperar anos para chegar à terra prometida, com tantos atalhos à disposição?

Em um futuro próximo, a prometida irrestrição no acesso à Internet permitirá o consumo de qualquer tipo de conteúdo, em qualquer lugar, a qualquer momento, por qualquer um. Será quase impossível blindar um adolescente motivado da pornografia online. Se ele não tiver a ferramenta de acesso (celular, palm, laptop, relógio, terminais, o que mais inventarem), bastará usar a de um amigo.

Quais seriam os efeitos desse contato irrestrito com a pornografia sobre uma geração inteira de adolescentes, disposta a absorver esses símbolos como dogmas da vida adulta? Estamos falando de uma nova educação, cujos referenciais são mulheres casadas sedentas pelo pepperoni de entregadores de pizza, pessoas que gostam de ser banhadas por urina e penetrações quádruplas!

Alguns palpites:

- A profissão de entregador de pizza será glamourizada.
- Os pornstars serão os novos Jaspion ou Changemen entre os meninos, modelos de atitude que evocam sucesso
- As meninas emularão o visual das pornstars - silicones, maquiagem, cintas-ligas, roupas de enfermeira...
- O sexo será mais casual, claro. Precisar de um relacionamento formal para conseguir tirar a calcinha de alguém será coisa de idiota.
- A idade média da primeira relação sexual cairá - o acesso irrestrito e precoce a gatilhos sexuais muito mais explícitos antecipará as primeiras experiências.
- Potencialmente surgirá a mentalidade do "quanto mais bizarro, mais adulto", que convencionaria práticas hoje chocantes para muitos
- As primeiras vezes serão especialmente frustrantes devido à expectativa de prazer cósmico cultivada pela cultura pornô, salvo autosugestão
- O choque de valores entre pais e filhos aumentará, e muito - será difícil lidar com a precoce naturalidade sexual de um filho de 12 anos, certamente. Imagine descobrir que a festinha de aniversário no McDonald's terminou em uma suruba épica de rapidinhas no banheiro? E para convencer o moleque de que ele estava errado, então? O nosso maior propósito aqui não é a felicidade? Não seria o prazer um meio legítimo para a obtenção dela? Estaria ele errado em buscar a própria felicidade, contanto que tomasse as devidas precauções? Acho que, primeiro, precisaria ME convencer disso.